Aqui há tempos, uma terça-feira, fui ao senhor doutor. Este senhor doutor já me conhece assim há uns seis anos, mais ou menos, e temos feito uma coisa que diz-que-é-uma-especie-de-psicoterapia, a que também podem chamar psicoterapia para tesos; passo a explicar: para a coisa funcionar tem de ser uma vez por semana. Eu comecei por ir uma vez por mês, e agora nem isso.
Ora entre o aparelho do Tomás, pedopsiquiatras, e todo o resto, só lá vou quando estou pelos cabelos e 'AQUI D'EL REI!' Acontece que assim a coisa fica enviesada. Ele faz o que pode, mas não tem todos os elementos que precisaria para a coisa de facto funcionar... vai daí, naquele dia vim das avenidas novas para a baixa em estado cerebral semi comatoso - eu SEI quando lá vou o que vou ouvir (e que não é bonito); mas também sei que ele me ajuda a pôr as ideias 'mais' em ordem. E prontx... mas naquele dia cheguei lá coxa e saí de lá com a perna e os dois baraços partidos (em sentido figurativóparvo, claro).
Bem, não sei se conhecem (quem aqui vem tem idades tão dispares que há quem saiba do que estou a falar e quem não faça a mínima ideia, mas tentem entender e criar uma imagem do que falo...) aqueles bonecos de dar corda, que andam e quando encontram obstáculos batem e recuam... e quando batem muitas vezes, acabam por ficar a modos que balhelhas a dar voltas sobre si próprios... eu estava um bocadinho assim. Até me custava respirar. Não tivera eu prometido estar na Fnac daí a duas horas e tinha vindo direto para casa sem passar na casa da partida, sem receber 200 euros, diretamente para debaixo do edredão. Mas prometido é devido e deixei-me andar às voltas na baixa.
Pior a emenda que o soneto... já lá não ia há tanto tempo (não queria, fazia tudo para ir o mais-diretamente-possivel para o familiar Chiado) que passear naquelas ruas onde passei tantos dias da minha vida quando era criança e adolescente e ver que AQUILO não era a minha Lisboa ainda me deixou mais perdida. Apeteceu-me fotografar as pouquíssimas lojas sobreviventes do 'meu tempo', mas nem para puxar do telemóvel do bolso me sentia com vontade. Jurei que deixava para outro dia; e outro dia será - com sol, de preferência.
Bom fiz a Rua Augusta de um lado para o outro a espreitar as montras sem ver realmente o que mostravam, cheia de vontade de me sentar e deixar estar até serem horas de voltar para casa. E depois... bem depois encontrei o Brown's coffeeshop (sabem o que é certo?) uma mistura de Starbucks com Costa e um je ne sais quoi de british que me arrancou para fora de Lisboa. Entrei sem conseguir ver o interior, só porque o estômago me mandava meter qualquer coisa dentro, me doíam os pés e me pareceu bem, pareceu, de fora e mesmo quase sem ver o interior, tipo strabucks, e gosto disso - eu só queria sair da baixa-quejá-não-é-A-baixa.
E dei comigo em Londres. Sensação estranha de deja vu de um local que não conhecia nem nunca tinha ouvido falar.
Fui buscar a bebida quente, um brownie e enrosquei-me num sofá. Puxei do telemóvel, do reader, vai de mexer nas tecnologias e...
PAROU
Parou que o que eu precisava era de não preencher mais o espaço. Era deixar a cabeça 'vazia', desocupada, solta. Pousei os gadgets na mesinha e peguei no copo do café com as duas mãos. Afundei-me mais no sofá. E deixei-me estar, ali, com a Rosinha (eu pequenina) ao colo enroscadinha, polegar na boca, e embalei-a até estarmos as duas mais restabelecidas. Foi tão bom. Quando acabei finalmente o (balde de) café, e me decidi a pôr a caminho, garanto que não me sentia de todo o desamparada que me sentia quando entrei.
ÀS VEZES é preciso só isto. Em casa, um bom bocado enrolada em posição fetal, sem autocríticas, só mesmo auto-mimos. Porque se em teoria o senhor doutor tem razão, falta-lhe o trabalho analítico para avaliar o que eu aguento ou não ouvir - bem, aguentei, não aguentei? Fazer o que quer que seja do que ele sugeriu é que está de gesso, porque eu fui (des)educada de uma determinada forma - que não aprofundámos - que não me permite ter tintins para fazer as coisas como ele sugere. Pura e simplesmente
Não.
É.
Possível.
Não porque eu seja fraca, incapaz, preguiçosa, falhada, ou quantas etiquetas eu caia no erro de achar que que devo colar na minha testa.
Não.
Só porque sou humana, e reajo como tal. Porque apesar de já ter estes anos todos, ainda há uma Rosinha que chora e treme, e tem tanto medo de ser rejeitada. Que acha que não é capaz. Que quer, precisa desesperadamente que gostem dela.
E se cada dia esse precisa vai diminuindo o tamanho da letra com que se escreve na sua cabecinha, a verdade é que ainda lá está. E cada dia que entende que não precisa de se esconder para gostarem dela, que pode mostrar o que, quem e como é, é uma vitória, mas só um passo. Porque ainda há muito do que é, quem é e como é que esconde no bolso do bibe, com medo que não gostem dela se o virem.
E somos todos um bocadinho como a 'minha' Rosinha. A questão é se assumimos ou não. Eu assumo. E sei que é uma jornada que tenho de ir fazendo com pouco apoio, mas que ainda assim, se vai fazendo. Um passo de cada vez.