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Porque Eu Posso 2.0

... e 'mái nada!

Porque Eu Posso 2.0

... e 'mái nada!

Em relação a atropelos à língua portuguesa, e quando escrevi este post, ainda pensei em alargar a abordagem às exceções. Melhor ainda, À EXCEÇÃO, assim, com maiúsculas.

Presumo que por esta altura, se leram o post supracitado, e acompanharam os comentários, já saibam a quem me refiro. E se não o leram AINDA - estão à espera de quê? :) - também não será difícil presumir quem é cavalheiro em questão.

Já não lia nada dele há algum tempo - tempo demais, se posso confessar - e essa ausência foi sentida mal peguei no ainda não lido e recomendado "As intermitências da morte". 

Saramago é um escritor delicioso que brinca com a gramática como um malabarista com bolas, ou maços

ou o equilibrista de pratos

e o seu caminho iniciou-se com o dominar perfeitamente os segmentos de reta, as perpendiculares em ângulos diversos, as curvas, semicurvas, todos os jeitos e trejeitos certos da geometria das palavras. Só assim, sabendo exatamente o como correto, pôde mudar as linhas de lugar e dar luz a renovados formatos.

Ao contrário da história dos pontos-finas-minúsculas, a forma como José Saramago pontua, as vírgulas, a ausência de parágrafos, a inexistência de separação nos diálogos que não as maiúsculas que dividem os interlocutores mantém-nos em pontas de pés, estimula a massa cinzenta. E sim, volto atrás algumas vezes, não por me ter perdido, mas para saborear melhor a poesia da forma, a criatividade do efeito.

Não haveria, por isso, razão para 'usar o nome do Senhor Escritor em vão' e o embrulhar naquela amálgama de mau gosto que referi no outro post. Saramago é genial e ergue-se com majestade, onde os outros embriões de aspirantes a escribas nem sobre bancos se suportam.

E para acabar, passo a citar

(...)Umas quantas luzes de sintaxe elementar e uma maior familiaridade com as elásticas subtilezas dos tempos verbais teriam evitado o quiproquó e a consequente descompustura que a pobre moça, rubra de vergonha e humilhação, teve de suportar do seu chefe direto.(...)

in As intermitências da morte

 

É assim: para desmontar, há que saber como funciona e porquê. E depois vamos pensar fora da caixa, criar neologismos, fazer toda a espécie de experiências, qual brainstorming esperando que no final o resultado seja positivamente diferente. Ou quiçá, mesmo um primeiro passo no caminho do brilhantismo...

saramago-frases-1.gif

No domingo passado, fomos ao cinema a dois.

 

e segundo me constou quase toda a gente foi,

no mesmo dia, ver o mesmo filme...

 

Claro que estou a falar em Mestres da Ilusão 2/Now you see me 2. Confesso que o primeiro me passou um nadinha ao lado, e só o vi há pouco tempo no pequeno écran... e independentemente da qualidade do mesmo, não me agarrou...

 

 

... teche, dona Fátima!...

 

Vai daí resolvi que não me apanhavam desprevenida à segunda... e fui em grande: além de ver em cinema, vi em 4DX. A medo, que se os abanões e demais efeitos fossem excessivos, receava perder o filme com o barulho das luzes... mas não perdi. O filme é bom, uma cinematografia à prova de bala, não vejo nada que pudesse ser muito melhorado

 

e não costumo ser assim muito generosa quando analiso um filme...

 

Quanto aos atores, o que dizer? Jesse Eisenberg está igual a si próprio, i.e, fabuloso

 

(trivia: sabiam que ele está em palco neste momento no West End londrino? Em The spoils, ele não só protagoniza como é o criador da peça. One man show, at his best!)

 

E depois, há o Woody Harrelson. Com uma filmografia de ficar em sentido, um actor com um A muito, mesmo muito GRANDE.

E neste desfile de estrelas, juntam-se mais duas que primam pela qualidade a todos os níveis: o gigante Morgan Freeman, a quem não falta fazer nadinha - mas que continue a fazer o que lhe apetecer que a gente agradece e aplaude.

E finalmente, o caso muito sério, Mark Ruffalo. O homem que me consegue atordoar com a sua capacidade de encarnar personagens - como o  inimitável desempenho de Mike Rezendes em O caso Spotlight/ Spotlight, que de resto lhe rendeu o Óscar de melhor ator secundário este ano. Isto só para dar um pequeno exemplo. Um caso mesmo sério de talento e que ainda não mostrou tudo o que tem para dar, garanto.

Ora o que é que uma mistura explosiva como esta podia dar? Uma de duas coisas: ou uma imensa mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, ou um filme 5 estrelas.

Querem saber o veredito? Vão ver - vale mesmo a pena, mais não fosse pela espetacularidade - e depois decidam. Diga eu o que disser, a opinião que conta é a vossa.

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E se me quiserem fazer a vontade, partilhem o que acharam. Ali em baixo, nas "Opiniões, ta-taus, miminhos... AQUI!", if you please 

{Pois que quanto ao Acordo Ortográfico, acho que já toda a gente adivinhou - ou leu por aqui algures - que sou a favor, ou pelo menos não tenho nada contra. As consoantes mudas são uma coisa que me faz espécie desde miúda, por isso abaixo com elas. E então, obviamente, o título em epígrafe não contempla o mencionado acordo}

 

Adiante, pois.

Se há coisa que me encanita - mas é que encanita MESMO! - é esta mania - podem chamar-lhe moda, que acredito que seja disso que se trata - de tanta gente se borrifar para as maiúsculas.

 

que os meses do ano não tenham direito a maiúsculas até advogo,

AO oblige

 

mas que comecem um texto com minúscula, e a seguir a cada ponto final se siga outra, põe-me quase fora de mim. Não consigo ler assim.

Aliás, conseguir LER, até consigo, o que me é particularmente doloroso é tentar criar lógica no que estou a ler.

Tropeço nos pontos finais como se estes fossem vírgulas, levanto-me, volto atrás a ler a mesma frase e pauso devidamente porque AQUILO É UM PONTO. Porreiro. E depois aparece outro, mais um, e lá volto eu atrás, a reler, a procurar o buraco da agulha onde devo enfiar a linha que é a ponta da meada. 

Até que chega aquela altura em que DESISTO.

Porque não vale a pena, um livro, um texto, um post, não merecem a trabalheira que tanta tentativa e erro me dão. A sério: há tantos, mas tantos livros, textos e posts que são bons - ou até razoáveis - que não vale o equilibrismo cognitivo.

A primeira vez que me deparei com o "estilo" foi num livro do Walter Hugo Mãe - perdão, walter hugo mãe. E não, não "consegui" ler a obra - porque mesmo ao lado estava outra escrita de uma maneira... digamos clássica. Ou se calhar alguns até defenderão, "arcaica".

A mim, tanto se me dá.

Nunca mais comprei um livro do senhor por isso não sei se foi caso único ou se é habitual e costumeiro. 

A seguir a um ponto final segue-se uma letra grande. Eu sei isso desde a primária, quando batismo ainda se escrevia baptismo. E vá, saia de lá essa prerrogativa de que faz mais sentido continuar a fazer uso das consoantes mudas como se "actor" fosse mais acurado de que "amanhã. ele disse-lhe que voltaria amanhã. e fê-lo por saber que ela estaria de novo de novo sozinha. ela sorriu e aquiesceu".

A mim atrofia-me. 

Mesmo, mesmo a serio.

17 Jun, 2016

Weekend: um filme

Bem sei que ontem estreou o "Mestres da ilusão 2/Now you see me". Já comprei os bilhetes para o ir ver no domingo, em 4DX (yeahhh), pelo que devem saber o que achei daqui a umas duas semanas, ou assim... por ora, aqui têm uma sugestão para um filme que ainda está em exibição em praticamente todo o lado E que vale tanto a pena ver...que o vi duas vezes em quinze dias.

Leram bem.

Uma vez com o filho e a segunda, com o marido.

Estou a falar da película que mais me fez rir em, pelo menos, um ano. A sério. Das duas vezes chorei desalmadamente na mesma cena. Uma sucessão de gags que valem o seu peso em ouro!

(este é um video promocional e não faz parte do filme)

Falo de "The Nice Guys/Os bons rapazes", com a dupla que tem tanto de improvável como de certeira, Ryan Gosling e Russel Crowe.

A coisa desenrola-se em 1978, em Los Angeles. Holland (Gosling) é um pai viúvo, detetive (aldrabão) de profissão, cagadinho da silva de nascença, e dado à pinga nos momentos mortos e menos mortos. Já Jackson (Crowe) é um tipo gordo, assim tipo para o roupeiro, que dá uns enxertos de porrada à moda de cobranças difíceis, mas sem a parte das cobranças. São só mesmo entregas de mensagens em 4D com uma visita ao hospital mais próximo de bónus.

Por vias da ocupação de um, cruzam-se na entrega de uma mensagem - preencham os campos em branco no que diz respeito a emissor e recetor da mesma... - e, paginas (que não são assim) tantas, dão por eles a trabalhar juntos - e com a ajudante mais inesperada e competente. O caso em mãos passa-se no mundo dos filmes pornográficos - que pelos vistos constituía uma empresa em expansão, na época. 

Delicioso, entre as gargalhadas e o limpar das lágrimas, vemos os Earth Wind and Fire - que ainda mexem, sim senhores - a cantar September. E outras pérolas do género.

E quando acaba, saímos satisfeitos. E muito bem dispostos.

E quinze dias depois bisamos. Isto, claro,quando "nós" somos EU.

Vão por mim; vão ver que, DE TODO, não se arrependem.

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Há uns dias atrás almocei com uma amiga que já não via há algum tempo. Pareceu-me um pouco abatida e deprimida, o que relacionei com o facto dos seus problemas na tiróide terem descolado, e os nódulos estarem bastante maiores, sendo que se preparava para fazer uma biopsia.

O triste disto tudo é que a vida da minha amiga está tão enrolada, tão cheia de nós e embaraços, que, quando lhe disse: "Calma, vais ver que vai correr tudo bem", ela olhou-me nos olhos, bem no fundo, e disse-me com uma tranquilidade misturada com tristeza, que me desarmou:

"Preferia que não".

Assim.

Fiquei a olhar para ela e em segundos acorreram-me à mente os 'N' casos que todos conhecemos, quanto mais não seja de ouvir falar, de pessoas que 'com a vida perfeita' se suicidam, semeando a perplexidade entre os que ficam.

A minha amiga confidenciou-me estar farta de lutar (conhecendo a história de vida dela, não posso deixar de entender), se sentir extenuada, e ter vontade de largar tudo, bater com a porta, mas não querendo magoar quem ama e sabe que a ama. Então, disse-me com uma lógica desarmante, uma situação terminal seria a solução perfeita: ninguém se sentiria abandonado, e ela poderia finalmente, descansar. Claro que seria doloroso e desesperante, mas com dor e desespero já ela tivera contato, e para mais, "nunca pensaria ir para o céu [é uma ironia da própria] a cantar o fandango e a tocar castanholas".

Fiquei colada à cadeira, a mexer o café sem conseguir encarar aqueles olhos claros que não se desviavam de mim. 

Dizer-lhe o quê? Incorrer naquele lugar comum de fazer um inventário do que ela tem de bom na vida - segundo a minha pessoa? Ou, pior, entregar-lhe numa bandeja aquele outro, sem qualquer tato, "não-digas-disparates" (e-não-digas-que-vais-daqui).

Pensei que dava tudo por um digestivo ou um ansiolítico. Levantei os olhos e encarei aquela mulher forte, e senti-me uma alforreca. Uma mulher que encarava a morte sem pestanejar. E eu a arfar por um calmante...

Respirei fundo. Devolvi o seu olhar profundo, e pus a minha mão sobre a dela. Depois de um silêncio cúmplice, disse-lhe:estou a aqui. E aqui estarei.

 

E juro que vou cumprir a minha promessa.

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Esta é a lista dos artigos mais lidos na edição online do jornal i de hoje:

ESTE.PNG

Mas digam lá: então não se está mesmo a ver que as alíneas 2 a 6 não têm qualquer tipo de importância ou interesse se comparadas com a morte misteriosa da cadela da Maria João Bastos? E de - finalmente, que já se aguentava o suspense! - ela ter descoberto o que provocou tal ocorrência?

 

pista: estar viva??

 

Fora de brincadeiras: a morte de um animal de estimação é a morte de um familiar. Dói muito e isso interessa, e muito - a quem faz parte da família da falecida.

 

Agora, com a Troika em Portugal, o Brexit à porta, a morte da deputada inglesa o Caixagate (isto é uma opinião minha), e a balbúrdia que vai na França à conta do Euro 2016 e de todo o resto... claro! que o mais importante é o que se passa com a atriz/ex-manequim.

 

E é isto gente cada vez mais estupidificada... 

 

lá agora sua má lingua!

 

Aiaiai........

11 Jun, 2016

Os sapatos novos

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O Rocinante voltou do pintor cirurgião plástico, lindinho,lindinho! Vai daí, fui comprar-lhe uns sapatos novos - leia-se tampões para as rodas - que já andava a precisar e merecer!

 

e digamos que aquela loja de peças e acessórios automóveis não costumará receber

muitas clientes do género feminino, que tanto empregados como clientes,

todos olhavam para mim como se acabasse de chegar de Marte...

 

Pedi tampões, jante 14, e o empregado foi buscar o que tinha - que não era grande variedade... e fiquei na dúvida.

E eis que oiço uma coisa que nunca pensei ouvir naquela situação: "quer que leve o tampão até ao automóvel, para ver como fica?" 

WHAT???

Apesar de achar a ideia um pouco bizarra, concordei e lá nos dirigimos ao Rocinante para experimentar o sapatinho à Cinderela. OK: serviu - será que vai casar com o príncipe? - e eu lá trouxe o conjunto.

Mas fiquei naquela: será habito, ou foi por eu ser uma senhora - sim, que quer queira quer não queira, sou uma senhora, com o que isso tem de bom e menos bom - o cuidado de levar a coisa à viatura? Verdade seja dita que só os trouxe porque achei que lhe ficavam bem, senão os ditos tinham ficado na loja...

Fartinha de rir, mas pronto,o Rocinante já pode ir ao baile.

{vou para uma semana sem carro, o que é suficiente para me deixar, no mínimo, perturbada...}

 

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Ora nesta semana acabei "O lar da Senhora Peregrine para crianças peculiares", - muito, mas muito interessante, para dizer o mínimo, a mim soube-me a cerejas - e segui com o último livro de Elizabeth Adler: tão, mas tão, TÃO mau que doeu.

 

e porque o leste tu até ao fim, F.B.

já que como dizes não fazes favores?

porque só perto do fim é que se espalha ao comprido

- e ao largo - de forma imperdoável...

 

 

Adler é, a par de Guillaume Musso e Mary Higgins Clark, bem como de Dorothy Koomson (todos mensuráveis com valores diferentes, atenção!), um dos meus guilty pleasures uma das responsáveis pelos meus momentos 'no brain', e que me caem lindamente nos momentos certos.

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Esta autora é "A" descricionista por excelência. Balizada, é certo - Espanha, França, Itália e duas ou três regiões do seu país de origem, Estados Unidos e pouco mais - mas que nos consegue fazer sentir in loco, o que não tem preço. Neste livro

(e até já havia um de que eu não gostava particularmente, mas apenas por não gostar, por ser mais do mesmo...)

ela faz a espargata sem aquecimento.

Mesmo mau. Nem tento apresentar uma explicação ou análise do porquê: li a última metade do livro de enfiada e quando começou a escorregar eu assisti ao esbardalhanço de boca aberta e mãos na cabeça. Porquê, quem escreveu tantas obras tão flawless quanto possível, se deixou levar à publicação desta merda?

Pressão dos editores?

Será problema da tradução?

Não me pareceu, mas ainda assim, pensei em comprar a versão original para o Kobo, mas neste momento nem consigo imaginar repetir a leitura de tal bosta para tirar dúvidas. Talvez numa qualquer outra altura, em que esteja particularmente brainless e já não me lembrando bem da coisa, me decida a tirar a prova dos nove. Duvido. Daqui onde estou sentada, consigo ver ali na prateleira a lombada de "Sombras de paixão", com tantas paginas que neste momento é impensável perder tempo na leitura do mesmo. Talvez na praia.

Ou não...

 com o passar dos anos, o tempo é cada vez mais precioso...

 

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Bom, mas para não me dececionar outra vez - duas de seguida são duas a mais - pensei em jogar, tanto quanto me pareceu, pelo seguro, e propus-me um volume que me pareceu uma coisa absurdamente gigantesca, já que a edição que comprei - a limitada - está impressa num papel pouco mais espesso que papel de bíblia e a fonte é bem pequena, isto distribuído por um número de paginas considerável. Mas a introdução e o primeiro capitulo passaram "a peneira" com distinção, peneira que estava com a malha apertada depois da referida deceção - e o título já me tinha chegado com endossos positivos.

 

Resumindo: está a custar-me imenso pousar o tomo, só o faço mesmo quando o cérebro se recusa a assimilar o que os olhos começam a ter dificuldade em registar - porque o Morfeu faz jus ao que lhe pertence, nomeadamente aquela janela temporal em que me devo abandonar no seu regaço. 

Mas recomendo. É um livro falsamente despretensioso, como só os bons escritores conseguem criar - e dos que até parece que estão ali ao nosso lado e entre um gole e outro de uma bebida quente ou fria, com ou sem álcool, consoante o leitor idear, nos vão contando uma história, assim como um amigo de sempre, e nós vamos acompanhando a narrativa

 

assim de simples!...

 

E vou passando assim o tempo. Entre paginas, no Farmville, e pronto... pouco mais. Vou descobrindo aqui e ali uma ou outra ameaça de surpresa menos boa, mas QSL*, o caminho é em frente.

{aviso já que, se o Rocinante não me chega na segunda feira no final do dia, vou e dou uma carga de porrada ao responsável pela cirurgia plástica do mesmo (pessoa que não conheço). Já o senhor doutor que lhe vai cuidando da saúde, e que o vai ter sob a sua alçada por 24 mínimo-e-máximo de 48 horas para uma pequena cirurgia - seria incapaz de desancar, que o senhor é uma simpatia de amoroso.

Por isso o pintor que se cuide...}

Entretanto vou ali ler mais uns capítulos, antes que tenha de pousar os óculos e apagar a luz.

Inté, gente boa!

 

*Que Se Lixe