... a autora deste blogue pegou no livro "Numa floresta muito escura" e recostou-se nas almofadas.
E foi até às 05:20h, 323 paginas de uma assentada - ou quase, que se levantou duas vezes, umas vez porque bexiga oblige, e outra porque sentiu fome e foi pegar nuns alperces e rumou de volta ao quarto.
323 paginas.
Ó Fátima o livro é assim tão bom?
A Reese Witherspoon acha que sim, já que vai produzir a sua adaptação ao grande écran. Eu, por mim, acho que ando a ler thrillers a mais. A história está bem montada, gosto dos personagens... mas a verdade é que nada me surpreendeu. As ações foram-se desenvolvendo como previa. Houve ali um momento, perto do fim, em que a autora conseguiu pôr-me a conjeturar alternativas, mas foi sol de pouca dura... embora honestamente considere que o livro não é assim tão previsível.
Má, má, é em alguns pontos, a tradução. Olhem um exemplo - apesar do adiantado da hora ATÉ consegui decorar o número da pagina: 245, primeira frase.
Nunca mais voltaria a confiar eu própria em juízos de valor.
Bolas. Li a frase três vezes. Retroverti para o inglês
- tentei, não tenho o original... vi-o na WHSmith da estação de comboios de Paddington,
e lamentei não o ter trazido, estava com uma ótima promoção,
e escusava de estar a fazer malabarismos...*
Mas cheguei perto o suficiente. Qualquer coisa como I'd never trust my own judgement again. No google tradutor, palavra por palavra: never again to trust myself in value judgments. Presumo que a minha aposta esteja mais próxima do original, mas never the less, a tradutora quando avançou para esta frase devia estar mais cansada que eu quando a li.
{É que a frase não faz sentido, SEQUER, EM PORTUGUÊS!!!!! }
E depois, o trabalho de revisão e edição, aqui e ali, peca por gralhas e não concordância feminino-masculino, singular-plural, artigos a mais ou a menos, espaços que partem palavras ao meio... coisas que até se relevam, mas erros de tradução, não consigo. E quando se pagam 16 ou 17 euros por um livro, não me parece que seja aceitável encolher os ombros e compactuar com a expressão errar é humano.
Sim é, num blogue que escrevo sem que ninguém me pague para isso, e não disponho de uma equipa de suporte para corrigir gralhas e eventuais erros gramaticais.
Não num livro em papel - nem se fosse em formato digital, que as palavras são as mesmas.
Por isso, revoltei-me. Deixa-me as entranhas às voltas, o pouco caso com que se trata um original e se atira o mesmo para os escaparates, à boleia do número global de vendas e das criticas no Goodreads, mais umas fita-métricas do género. Uma obra é uma obra, e merece respeito. É mais de que cifrões, caramba!
Pela minha parte, não acho piada nenhuma a sentir-me enganada. Como autora, revolve-se-me o estômago só de pensar que qualquer tradutor pode apunhalar uma obra. Não fica ferida de morte, mas a cicatriz, quando descoberta, captar-nos-há sempre o olhar.
A partir de agora, quando me cruzar com o volume numa livraria, vou SEMPRE recordar, pagina 245, 1º frase
quase como se houvesse um letreiro de neon por cima..
E se houver uma segunda edição (haverá, quando mais não seja quando o filme estrear) vou [a correr] abrir o volume e procurar a possível correção.
Por isso, se puderam, leiam no original. Vale a pena.
*(como eu sou uma chata teimosa, fui à procura, internet fora... e achei. A frase é "I would never trust my own judgement again" [BINGO!!!!! Eu é que tenho de confiar mais na minha intuição, duh!] .O google tradutor, atribui-lhe um "Eu nunca iria confiar em meu próprio julgamento novamente", que, apesar de abrasileirado, consegue fazer mais sentido que a frase escolhida pela tradutora!!!).