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Porque Eu Posso 2.0

... e 'mái nada!

Porque Eu Posso 2.0

... e 'mái nada!

A rentrée está à porta, e se nunca é fácil trocar os flip flops pelos pumps (ou sabrinas), este ano a coisa afigura-se mais complicada... habitualmente o final das férias passa-se numa temperatura mais baixa de que a que tivemos no pico do Verão, e isso ajuda-nos a aceitar a inevitabilidade do final do dolce far niente. Mas este ano o velhote não dá tréguas, danado que ficou com as piadas às gotas e ao Alzeimer, e resolveu que 'Verão é enquanto um gajo quiser', e prorrogou a sua duração Setembro adentro. Aguentem-se que o velho está doido, reitera com ironia - e nós aguentamos, que não temos outro remédio...

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Mas o calendário não se compadece com mimimis, e daqui a nada é mesmo dia 1 de Setembro, altura em que reentramos oficialmente na rotina. E isso é sinónimo de muita coisa, como por exemplo, agenda nova - eu pelo menos compro sempre uma nesta altura e já ali tenho a minha. 

A verdade é que nesta fase anda meio mundo (e mais a outra metade) a tremer nas bases antecipando o regresso à rotina, e tudo, e tudo... mas até podemos fazer com que a migração para o novo ano seja facilitada, com estas pequenas dicas de quem vai descobrindo como dar a volta ao inevitável e adaptar-se com um sorriso. Grande.

 

Listas, as suas melhores amigas

Para quem se sente a asfixiar só de pensar em tudo o que  tem de , há um truque eficaz para deixar a mente livre de lastro: pôr no papel. É andar com um bloco de notas/caderno de apontamentos e escrever o que nos lembramos quando nos lembramos - e esquecer. Quando em casa (ou no trabalho), passamos para a "central de informação" - a agenda, ou similar.

Para quem gosta mais de fazer uso da electrónica, há o evernote, uma app que merece mais que apenas uma vista de olhos. A versão basic permite sincronizar dois terminais, e partilhar as notas: telemóvel/tablet/pc, risque o que não interessa e avance sem medos.

 

Guarde tempo

Guarde umas horas por semana (pronto, se não pode ser no plural que seja no singular, sessenta minutos não são de desperdiçar!), e assuma um compromisso consigo própri@. Pode ser tão só e apenas para tomar um banho de imersão à luz das velas, sem interrupção. Se tem crianças pequenas peça ajuda à sua cara metade e seja indulgente consigo mesm@. Ou se lhe der mais jeito (e puder) marque uma massagem - há-as de 20 minutos (que pode aproveitar para fazer na hora de almoço, por exemplo), e dessas as melhores, na minha opinião, são as de reflexologia... experimente, ainda que seja só de quando em vez...

Mimo grátis-ou-quase: no seu smartphone, descarregue a app Headspace ou a Calm. E deixe-se ir, 10 minutos por dia; a meditação ajuda a combater a ansiedade e o stress, e notará diferença no final do primeiro nível (dez meditações) - isto no Headspace, e se quiser continuar, tem de subscrever=pagar. No Calm, é mais ou menos o mesmo sistema, mas a anuidade tem um valor inferior... e mais não sei que ainda não experimentei a segunda.

 

Faça

O slogan da Nike deve ter sido dos momentos eureka mais bem conseguidos: just do it é a súmula do que é preciso: atire uma perna que a outra segui-la-há, uma viagem de mil quilómeros começa com um pequeno passo... e demais lugares comuns. Não pense no passo seguinte, limite-se a dar um. Sem ideias? Descarregue a app YOU e acrescente-a (ou substitua-a por) ao Instagram. Crie o hábito de ir lá diariamente e vá aceitando os desafios: conseguirá gastar um máximo de 2 minutos, mas se quiser pode gastar mais. O precursor é o chef Jamie Oliver, e amigos, e a ideia que norteia a mesma é fundamentalmente a máxima de Roosevelt: fazer o que puder, com o que tem à mão, onde estiver. E durante os dois ou três minutos que tal empreendimento lhe rouba, desligue-se de tudo e concentre-se apenas nessa tarefa. Já está? A sério? Então parabéns: acabou de fazer uma microaction que potenciou a sua capacidade de mindfulness. Mas deixe o jargão e aproveite o bem estar que esses escassos minutos lhe proporcionam. E não estranhe, se der por si a aguardar o dia seguinte com expetativa.

Se prefere o papel ao app, já existe em versão papel/livro/diário. Pode comprá-lo na amazon por £6,99- cá em casa, já vive um...

 

E então, em meio a este tempo que torna a rentrée uma coisa estranha e incómoda, nada de remar contra a maré: abrace-a e morda-a com os dentes todos. E privilegie-se, faça deste ano que começa agora (só dentro de 12 meses é que há novo reboot, isso faz com que seja um novo ano , certo?) o SEU ano. Passo a passo, experiência a experiência.

Permita-me desejar-lhe UM EXCELENTE ANO NOVO!

 

 

A sério. Leio muita porcaria. Livros com maiúscula, assim BONS, com autores que são pesos pesados, também leio. Mas são em número inferior. Nem vos conto, as horas que devoto a queimar pestana de volta de uma Sophie Kinsella, de uma Tess Gerritsen, de uma Mary Higgins Clark, de um John Katzenbach, de uma Elizabeth Adler (de quem já gostei mais se vocês se lembram, aqui)... neste momento leio um Richard Montanari, As Raparigas do Rosário, que me está a prender. Vai daí fui espreitar o que havia mais do autor... em português, nada, mas em outras línguas...  eis que são mais que as mães.

 

Ou seja, estraguei tudo.

 

Um escritor que escreve um excelente livro (não digo que 'As raparigas...' seja assim classificável - nem o contrário...) é de se lhe tirar o chapéu, agora um escritor com uma braçada de livros editados, quebra-me qualquer sorriso. Não quer isto dizer que não vá ler mais nenhum - provavelmente vai ser o meu novo autor de 'bora lá ler tudo o que escreveu' - mas atiro-o já para pilha do distrai-me-e-eu-gosto-mas-não-faz-mais-que-isso. O que, às tantas, até é benéfico, não vale a pena estar atenta à forma, basta seguir o efeito.

E por falar em forma, o livro que li antes deste foi penoso. Uma história bastante interessante, bem contada q.b. - na medida em que não consegui adivinhar de todo, quem estava por detrás do esquema - mas tão mal escrito que doeu. Falo de  Teia de Mentiras, de Heather Gudenkauf

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Vejam um exemplo escolhido meio ao calhas - há pequenas passagens que estão tão ou mais mais pejadas de nomes próprios, diálogos que repetem ao infinito o nome dos intervenientes, para o caso de nos esquecermos quem são... até dói...

- Amy, é tão bom ver-te - disse Sarah dando um passo hesitante na direção da cunhada -  já lá vai tanto tempo.

- Olá - disse ela com voz rouca, surpreendendo Sarah com um abraço. Havia um cheiro a cigarro colado às roupas dela e Sarah sentiu a ponta afiada de cada uma das suas costelas. Sarah retribuiu cuidadosamente o abraço temendo apertar a franzina Amy com demasiada força - Obrigada por teres vindo.

-Ora essa. - Sarah levou a mão à bolsa e retirou um pacote de lenços que entregou a Amy

- Amy, comeste alguma coisa? perguntou Celia

Amy assentiu com a cabeça e Celia lançou-lhe um olhar penetrante.

- Comi - disse Amy num tom aborrecido - podes perguntar ao Hal.

- Ela comeu - confirmou Hal - Não muito, mas eu também não.

 

Fosse um guião e até conseguia compreender a utilização repetida do nome dos intervenientes. Num livro é descabido, e faz-nos cair do cavalo. Isso e frases curtas, muitos pontos finais. Dás à chave, metes a primeira, arrancas, metes a segunda... e páras. Ao longo do livro. Chamei à autora, 'a escritora do motor gripado'. Aquilo é soluço sobre soluço! Tive de pousar o livro - não poucas vezes - por forma a deixar de reparar na escrita e 'ver' a história. Mas custou. 

 

Li-o em duas penadas. Quanto mais depressa leio um livro, "menos bom" este é. É uma forma de avaliar tão boa como qualquer outra, e tem sido tão precisa quanto possível.

 

Já no que diz respeito ao Montanari, esta noite é a terceira. Passou esse filtro com distinção.

E agora vamos ver os outros...

 

22 Ago, 2016

Do fim das férias

Das férias, hei-de falar, mas não é hoje. Hoje estou a segurar a casa no lugar da trave mestra, caramba, baixa lá à terra que vai sendo altura. Quando chegámos, ansiosa que estava, aiasgatasestarãotristes, pois claro, se até adoeciam quando passava dez horas seguidas fora!, mas não, as gatas estavam ótimas, benza-as deus, acho que já se habituaram a que os parents são salta-pocinhas (mais a mommy que o daddy), mas voltam. Sempre. O gajinho que ficou em terra, a trabalhar, ai que saudades, quisemos chegar antes dele o que nos fez apanhar horas de um calor indizível, que nem a um engarrafamento no acesso à 25 de Abril a meio de Agosto (!!!) nos safámos, pobre Rocinante que se portou tão bem, e nós a parar nas estações de serviço para não desidratar, que a garrafa fresca de agua mal entrava no carro e era só colocar-lhe um saquinho de chá dentro, ótimo para as dores de garganta se alguém as sentisse. E depois, entrar em casa, correr para o duche, e esperar a chegada do jovem mancebo, que chegado, boa tarde e nem um beijo. 

Balde de agua fria primeiro.

Dias seguintes difíceis, que raio, sem entender porquê a distancia e a frieza, e as bichanas que amuavam por sistema, pós-abandono incompreendido, normais e satisfeitas, e o infante ensimesmado frio e distante, vá-se lá saber e entender, cabeça em loop que me passo de vez, e bum no buraco, amor que me estende a mão e ajuda a subir que não há nada que não superemos juntos mas que doer, dói na mesma. E por coincidência ou nem por isso, rebento que se junta aos demais mortais deste microcosmos e nivela as emoções, todos no mesmo comprimento de onda finalmente.

Três dias ou quatro, quanto bastou de repouso, um contato com pedido de ajuda, eis que uma atenta contra a própria vida e segue a pôr tudo em questão, prostrada pelas emoções desordenadas que a espezinham e a reduzem a menos que nada dentro de si. E mais dois depois, o outro que se faz numa bola e se deita a meu lado, e se deixa tomar pela angústia que lhe espreita as janelas dos dias, umas vezes mais e outras menos discretamente, que não há como se manter em vigilia permanente. E horas depois novo alerta, nova ameaça final, e cuidados redobrados no apoio possível a tamanha distância, eu e ela na sala com fibra pelo meio, ele no quarto à distancia de um braço ou quase, e a tentativa de chegar a tudo com calma e a firmeza possível.

Acabaram as férias, mesmo uns dias antes da rentrée. A vida não se compadece com calendários.

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Voltei agora mesmo do hipermercado, onde fui buscar um item que me faltava para fazer o jantar - mas que raio, falta 'sempre' qualquer coisa! - e antes de ir, o marido diz-me: vê lá as bananas, que já há poucas.

 

OK.

 

Chegada ao hiper, sigo para a fruta e as bananas... eram das cinzentas. Não conhecem? as bananas verdes - as que ainda não são amarelas; as castanhas - as que já não são amarelas. E agora, seguindo o princípio quanto mais depressa melhor, as cinzentas, que mais não são de que o resultado de saltar a etapa 'amarelo';

- passam do verde para o castanho.

 

Da faque?

 

Não pago - repito e sublinho - por um hibrido de rapidez e arca frigorifica.

Que coisa...

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19 Ago, 2016

A correr: Tyrant

Vi as duas primeiras temporadas. A primeira, acho que vimos os três, a segunda já avançou só comigo. Bastidores políticos são a minha chávena de chá, ao contrário de outros gostos por parte do marido, que prefere algo que o distraia.

Agora assisto à terceira, com episódios que ultrapassam os 50 minutos cada, e que são densos e transbordam conteúdo.

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A terceira temporada de Tyrant é um dramalhão sem tamanho. A sério. Hajam desgraças para despejar, nomeadamente sobre o (agora) presidente Bassam. Se gosto? Bastante. Se é demasiada ficção?

Infelizmente não.

Aqui a teia é tecida à volta do personagem principal e apertam-lhe a malha, parece demaisado mas, infelizmente, é uma realidade perfeitamente possível nos países Arabes.

Para quem se interessa por política internacional, mas que sabe de antemão que vai andar ombro a ombro com histórias familiares e emocionais.

 

De ver.
 
MESMO.

Lembram-se der ter falado aqui do ovo de colombo em proteção solar para cidade? Disse que voltaria ao assunto para contar como é o preço, a aplicação...

Bem, o preço anda pelo preço das águas minerais comuns em pshitt, à volta dos €12, um nadinha menos. MAS a latinha é pequena, 50 ml. O brumatizador funciona uma pressão de cada vez, ao contrário das outras, em que carregamos e movemos a latinha... aqui o jato é dirigido, e aconselham quatro jatos em cada utilização. Quanto à capacidade de proteção, só temos de acreditar na marca, que queremos confiar cumprir a promessa que faz. E o prático que é! Maravilha...

Bom, para fazer um apanhado da evolução dos solares práticos de rosto, começámos por ficar muito contentes com o BB com proteção, não foi? É que isto de aplicar 1, hidratante; 2, protetor; e 3, fond de teint, é um aborrecimento. E os dermatologistas (bem como as tecnicas de estética), insistem na necessidade de TODA a gente usar SEMPRE protetor. No meu caso, devido ao carcinoma, devo aplicar SEMPRE um de indíce 50 - e preguiçosa como sou isso é complicado.

Portanto o BB com IP50 já veio facilitar, ainda mais  a versão em compacto, que dá um acabamento à prova de bala. Mas... às vezes é demasiado à prova de bala, e se não esbatemos bem nas temporas, nota-se a delimitação - em bom português, fica uma valente porcaria. Daí que é preferível em creme, aplicando a seguir uma nuvem de pó solto ou compacto para um acabamento mate. Ainda assim, às vezes não queremos tanta coisa, queremos um arzinho mais natural ainda que o BB... e, eis que me cruzei com outra inovação, desta feita da Isdin.

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Pó solto com proteção 50! A embalagem já conhecemos de marcas de maquilhagem - por acaso não sou grande fã, já que gosto mais de aplicar com borla (manias...) - o pó impregna as cerdas com uma rotação ou clique (não sei, a que experimentei já estava impregnada, e não estava com muito tempo para brincar com ela), e depois é só aplicar o pó et voilá: pele protegida por IP50. Para quem dispensa o fond de teint, e para um efeito ainda mais natural que o do BB.

O preço? Menos de €30.

Não há desculpa para não proteger a pele com um indice de alta proteção, num gesto simples...

(ouviste, Fátima?)

 

(post não patrocinado; aliás, este bogue não tem patrocinios, e se tivesse nunca 'gostaria' do que não gostasse. E de qualquer forma, ainda não experimentei o produto, mas parece-me mais uma excelente ideia!)

A pergunta foi feita assim, largada qual papel anónimo num qualquer cesto para reciclagem, qual é o teu maior medo? Penso que vamos ter de esperar um bom bocado pela resposta, já que não sei nem faço a mínima ideia, sempre me foi reconhecida a bravura de não ter medo de nada, que ouvi aplicada nas situações mais diversas, enquanto cá dentro a criança estava silenciosa sob ameaça, sem conseguir esconder todos os papões dentro do armário, o que lhe provocava alguns tremores discretos, e invisíveis a quem me elogiava a bravura.

Onde está o meu calcanhar de Aquiles? que tenho de desvendar e pôr à mostra mesmo em surdina, que seja só para eu ver.

Vejo-me pequenita, numa sala de aula vazia, quadro de ardósia e estrado, na secretária da professora uma cadeira de ângulos austeros a gritar o desconforto que provoca a quem nela se sente, vazia. Estou sentada no chão, sobre o estrado, a um quadro de parede de distância do lugar ausente da chefe da sala, e escondo a testa nos joelhos, enquanto abraço as pernas em soluços mudos. O relógio da parede deixa escorrer as horas sem mudar os ponteiros de sítio, e ao passar do tempo nada muda, continuo no mesmo lugar nos mesmos preparos de lágrimas ranhosas, a professora ausente, a sala ausente de turba condizente com a sua função.

 

Sinto um arrepio e olho em volta; distingo as vozes, cheiros e sons que asseguram a minha presença na igreja devotada à sagrada cafeína em que me encontro, grandes baldes de misturas doces e aveludadas sob tampas brancas, é para levar ou beber aqui, qual é o seu nome, já chamamos, Fátima!. E enquanto tamborilo os dedos na mesa a que lancei amarras enquanto espero, noto que a resposta à pergunta é tão clara quanto o liquido no copo de água que pedi para hidratar a espera. Óbvia e pasmo!, insidiosamente desconfortável, que me quero capaz, capaz sozinha.

 

 

Tenho medo de não ser gostada. 

 

Quisera conseguir agradar a todos, porque a indiferença me dói mais de que o ódio ou a raiva. Tenho medo, mais de que de não ser alvo de sentimentos fofinhos decorados com nuvens cor-de-rosa, de ser atirada para o oblívio, de me ser retirado corpo, presença e sombra, de ser transformada em menos que uma memória, invisível que me queiram e possam, na sua indiferença. 

Não existe em mim pinga de receio, penso enquanto me dirijo ao balcão de recolha como um cãozinho bem treinado que escuta o seu nome, obrigado, Fátima!, de estar ou ficar sózinha, mesmo se a maioria das vezes gosto de companhia, gosto da cumplicidade que não se consegue quando estamos acompanhados apenas de nós próprios. Mas não agito um crucifixo, de retro!, aos momentos de solidão - ou sózinhez? - que me deixam a sós com as minhas dúvidas, os meus pensamentos, as minhas cogitações, já que gosto bastante da minha companhia e não me custa estar nua em frente ao espelho.

Mas em resposta à pergunta no título, tenho medo que não gostem de mim a ponto de me prenderem num esquecimento falso que dói tanto como se fora sincero e verdadeiro. 

Crescida que fiquei mais de que com o passar dos dias, com os mergulhos que dei fundo, cada vez mais fundo, acompanhada ao longe por um salva-vidas atento, e interveniente se solicitado ou necessário, entendi nas entranhas, sem a juda do cogito, que não é possível aspirar à unanimidade do gostar - e que por si é um contracenso. E daí a começar a deixar fluir a personalidade que se esconde debaixo de um sem-número de camadas de teias de aranha construídas por falsos pressupostos servidos em bandejas de prata com campanulas enganadoras do conteúdo, é um pulinho.

Mas isso... isso serão outras núpcias...

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Caramba que me conheço bem demais. Sei que não gosto de prazos impostos, não gosto de compromissos... e sou de facto uma slow reader.

Mas às vezes aceito reptos que me façam sair fora da caixa... e estampo-me nas curvas.

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De cinco (temas) propostos, li dois livros. Razões? Oh pá... estive doente = três dias sem ler. E depois li o Memória de elefante numa velocidade maior de que seria habitual, o que me valeu, no dia seguinte à sua finalização (conseguida tarde e a más horas) uma enxaqueca que não me deixava abrir os olhos (António Lobo Antunes exige-me um nível de entrega que me desgasta um pouco). E depois a aproximação das férias, a mente ocupada com as coisas a fazer (não tenho remédio, sou mesmo stressadinha no que diz respeito a viagens, quer sejam de 200 ou 20.000 quilómetros)... ainda comprei um Mia Couto de contos, já que me andam a recomendar o autor há imenso tempo, para trocar os suecos por ele, e tudo...

Decidi então manter A amiga genial (e que vou ler na semana de 15) mais o Fio de Missangas, que condensava dois dos requisitos, ser recomendado e ser um autor que nunca li - sim, vá, batam-me! - desistindo do Eu sou árvore, que SEI precisar de tempo para ser devidamente saboreado. Mas o Fio de Missangas e A amiga genial olham para mim da mesa de centro, a esconderem as gargalhadas, apontando-me o dedo, não conseguiste.

 

Não me surpreendeu. Tentei mas o resultado (a)final era uma forte possibilidade... 

 

Ler é um prazer demasiado grande para andar a correr atrás de prazos. Não tenho dúvidas de que há muito boa gente que lê um livro por dia com facilidade, mas eu tenho de estar dentro do livro para sentir prazer. E entrar num livro leva tempo, pede-me inversões de sentido de marcha e repetições uma e outra vez, do mesmo capítulo, página, parágrafo até descobrir o ritmo certo... é como escolher a banda sonora de um filme, presumo.

 

Por isso, dou os parabéns a quem conseguiu cortar a meta com as cinco alíneas satisfeitas, e garanto que vou ler todinhos e mais alguns, mas ao meu ritmo, e no meu tempo.

 

Depois conto como foi.

 

Agora vou espreitar as minhas companheiras de estrada...

Estou numa Resolve à espera que coloquem a proteção de écran no telemóvel do marido.

 

Ao meu lado, uma família, casal com duas filhas em idade escolar - a mais nova pouco mais de que lá chegada. O pai a fazer uso desesperado das férias para recuperar o que perdeu dos últimos onze ou doze meses, como se tal fora possível!, e a aborrecer de morte as miúdas que tentam bater o recorde de revirar os olhos por hora. Dá os parabéns a ambas por terem passado o ano (revirar), fala do presente que lhes deu, vocês não levem isso para a escola!! (revirar) acompanhado de uma forçada gargalhada oca que sublinha com força de cortar papel, Olhem, fiz uma gracinha!, e no fundo é sempre a escola, mal camuflada em esgares de euforia do mesmo plástico das flores na credência da mãe. E ao primeiro toque do telemóvel, Tinhas ligado? sim? mas... e afasta-se a palrar no jargão tecnicista que lhe borda os dias, e perde-se no mundo em que vive a sua vida real, deixando as férias e as filhas entre parêntesis por momentos, no botão pausa do telecomando que, não reparou ainda, não comanda nada. Mulher e filhas avançam para o balcão, chegado o seu número e acabada a chamada, ele estuga o passo, enquanto duvida do artefato que acha, deveria ter feito a vida esperar por ele, numa ansiedade confundida e logo disfarçada pela efusividade de silicone entretanto resgatada e posta em prática nos decibéis com que sufoca o ar da área de atendimento.

 

Está um calor insuportável, a Sonae poupa na conta de energia, e debito muito mais liquido por poro de que seria aconselhável a quem quer manter os batimentos cardíacos num valor normal. Começo a ver a dobrar e desmultiplico a minha visão numa enxaqueca em formação que me irá atacar mais tarde no hipermercado com a crueza de um raio. Trinta minutos após a minha chegada sou informada por uma funcionária com cremes anti acne por acabar na farmácia da casa de banho, que ainda lá se encontram por distração ou falta de tempo para deitar fora - no fundo resquício de síndroma de Peter Pan - que a película protetora de vidro está partida e não há outra disponível em loja . E espera uma resposta da minha parte, incrédula que fico com as reticências que pirograva na madeira do meu cenho. Pede-me que a acompanhe e mostra-me a placa lascada e explica-me como se eu tivesse três anos, que ao colocar faria bolha de ar por ali. Continuo sem verbalizar o que espera ouvir porque não sei o que é. Até que faz aquela pergunta, deseja fazer outra encomenda? perfeitamente dispensável, uma vez que o artigo que encomendei veio defeituoso, e se tenho o aparelho que lhes é exclusivo e que obviamente necessita da proteção, não existem alternativas, pois não? Começa por fazer a devolução do valor pago pela aplicação após o que repete a bendita pergunta idiota, quer então fazer nova encomenda? E eu imagino-me com cara de princesa disney, olhos grandes e redondos como dois pratos, um ponto de interrogação plasmado na fronte, quase a transmutar-me em megera e a saltar para o outro lado do balcão abanar-lhe os ombros e 

 

Onde é que está a dúvida? o equipamento é exclusivo da marca própria, os acessórios seguem o mesmo princípio, QUERES QUE TE FAÇA UM DESENHO?

 

Continuo a encarnar a princesa de olhos pires de faiança e aquiesço embêtée. Dá ordem, passa para cartão devolução, ok, imprime, pede, confirma, uma assinatura, repassa o cartão, confirma de novo, nova assinatura e saio com uma nova folhinha A4 e não trago mais papelada porque recuso fazer-me acompanhar por um convoy de celulose.

Quase uma hora depois, saio da loja coma certeza de que o dito aparelho só vai ser experimentado no regresso das férias.

UMA.

HORA.

DEPOIS.

Apre.

E eis que faltam três dias.

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(imagem booking.com)

E lá estou eu com a história da mala e do que lá ponho?, como já me está inscrito no ADN... é que quero tanto levar pouca coisa, que vou ter de fazer uma lista a prever os dias em que vou vestir mais de que o fato de banho. Não fora o calor que me atrofia as pernas dentro dos jeans, que dá cintura para baixo ficava despachada. Assim, atiro-me aos vestidos longos e folgados, mais vinco menos vinco, e à saia longa? Calças largas que berram verão a plenos pulmões? E para os pés, ah para os pés umas rasas e umas cunhas, as sapatilhas ficam em casa? Ou é melhor espetar com umas na bagageira que os caminhos ao pé da casa do avô fazer-se melhor de pé protegido. Então, na casa da partida apresento-me de leggings, túnica levezinha e os meus Berg?

Bah, bah, bah. 

Não esquecer os medicamentos sujeitos a receita, e já agora as vitaminas e o ibuprofeno (just in case). De resto, produtos de higiene, nem vou pensar muito, que não vou para o fim do mundo. Só mesmo nos protetores para corpo e cabelo (que se arrisca a voltar esverdeado com o cloro). Acessórios?  Para quê?  Maquilhagem? Não me lixem, que nos cinco dias que passei em Londres comprei um conjuntinho completo, já que tinha esquecido tudo em casa - e depois, não usei UMA vez que fosse! Toalhetes tira verniz e um fraquinho para retocar é quanto basta.

De resto, de que é que não me posso MESMO esquecer? Não me ocorre nada. Então: sapatilhas, comprimidos, tira verniz e o próprio. Protetores de corpo e rosto. Voilá. A roupa e o calçado é o mínimo - e o menos importante.

Já vos tinha dito que vou de férias na segunda-feira, para o campo desta vez, prontinha a despachar dois coelhos de uma cajadada? Vou ver a tia velhinha, como está a casa do avô, e conhecer o que nunca conheci nos inúmeros Verões que lá passei e em que o carro era estacionado e pronto. Eu lá sabia que havia água perto???? Eu lá sabia que Castelo de Bode ficava a 20 km? Eu alguma vez vi Castelo de Bode? Não, mas a Castelo Branco, valente esticão e estopada de morte no calor da beira interior em tempo de férias grandes, aí fomos umas vezes, ao jardim das estátuas, como eu lhe chamava.

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(imagem booking.com)

E o que eu gosto de água. De estar dentro. Ou mesmo junto que seja, de água.

Não vale a pena se contorcerem num esforço herculeo de psicanalisar a coisa porque não tem nada de complicado. Memórias do útero, líquido amniótico e afins, sou uma caricatura de prevísibilidade.

Bom, mas a verdade é que este post já me ajudou a tomar decisões. Agora vou à procura dos fatos de banho e toalhas, e juntar com o resto supracitado.

Depois falamos, que daqui até segunda ainda cá voltarei.

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