Pedro e Inês - a maior história de amor
Ontem dei comigo numa sala de cinema meia (o que é fantástico, às 12:35h). Meia e descontraída, em que as pessoas começavam por procurar o lugar e eram aconselhadas pelos que já lá estavam, sente-se onde quiser!. É uma lufada de ar fresco - se há coisa quem me atrofia é uma sala de cem lugares com duas cadeiras ocupadas, e um marmanjo (ou marmanja) ligar a lanterna do telemóvel e procurar afanosamente o lugar... irra, que os outros 97 devem estar ali à porta para entrar, é que já começou a projeçao dos trailers e tudo... canudo!
E começa o filme. D. Pedro e o seu que-me-foge-a-palavra "professor" (tutor?), está a ensinar-lhe a história do pai e do avô e eis que entra António Lagarto, digo, D.Afonso e indaga sobre o que estão a debruçar-se, no melhor estilo declamatório, e eu - que coro de vergonha por contar isto, mas conto - sou assaltada pelo pensamento mas o que é que eu estou a fazer aqui, eu nao devia estar aqui!!! Eu. snob, me confesso: vejo cinema britânico, francês, italiano, gabo-me às vezes que prefiro cinema europeu aos blockbusters americanos (tenho fases em que dou um braço por isso), e até vejo o canal Sundance, não vejo cinema português.
Depois daquele pensamento meio aflito que me apanhou distraída, fiquei quieta, dispensei juízos, e concentrei-me no filme.
Falar sobre este filme fica ali algures entre o facil e o francamente difícil.
O fácil: é tão bom, que dói.
Dificil é explicar porquê. Não devia ser preciso, pois não? Um é tão bom, devia chegar... mas este tipo de abordagem, pede uma analise mais detalhada.
A forma como António Ferreira, o realizador, nos mostra de inicio, Pedro internado no hospicio, deixou-me, paginas tantas, a duvidar se este Pedro não seria uma "quarta personaegem" que servia de ligação às outras três: o D. Pedro, o Arquiteto Pedro, e o Pedro do futuro distópico. Porque a história contada é do amor de Pedro e Inês a sobreviver ao passar dos séculos, maior que a vida.
Pormenores deliciosos: o que se passa no sec XIV, tão fiel quanto é possível. Depois o presente que não é facilmente situável no tempo: o pormenor da televisão a preto e branco no segundo apartamento de Pedro, tão anos 70, a camisa que usa na reunião na empresa de arquitetura que nos remete para os anos 60, a forma como a arquiteta Inês se veste, tão atual... António Ferreira apresenta-nos um presente transversal, porque não interessa realmente em que ano estamos, o amor de Pedro e Inês é eterno.
O futuro é uma distopia em que as pessoas vivem em comunidade com regras próprias. Mas o avião que passa - e não é um glitch do filme, é enquadrado - semeia-nos a dúvida, se não será apenas um grupo de fanaticos que se afastaram da civilização "normativa".
Mas nada disso interessa realmente... o que interessa é que acompanhamos a magnifica história de amor de Pedro e Inês através dos tempos, e esta nos é apresentada de uma forma magnífica. A fotografia, a banda sonora, a forma narrativa que pontua o filme, tudo encaixa na perfeição.
Este filme DEVE ser visto. por tudo, e porque é português: orgulhosamente português!