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Porque Eu Posso 2.0

... e 'mái nada!

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13 Out, 2021

A amiga

Desafio arte e inspiração - semana #5

 

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Foi diagnosticada muito jovem, e devido às normas impostas em casa - não falar sobre o assunto, que era uma falha que devia ser escondida - nunca fez grandes amizades. Aprendeu a apreciar a sua companhia, a fazer tudo ou quase sozinha e a sofrer em silêncio. Criara uma bolha em que se movimentava quando estava fora de casa, olhos em frente, cabeça erguida, ouvidos fechados, um pé à frente do outro.

 

A dor tomava tantas vezes proporções impensáveis, que a engoliam por inteiro. E ela perdia a capacidade de reagir, de pensar, e deixava-se ficar inerte, deitada, a chorar em silêncio, a sentir-se um grande pedaço de nada, um nada que era lixo ou menos que lixo. Os médicos tentavam ajudar, mas se tinha dias, semanas em que conseguia seguir em frente quase como as pessoas que dizia normais e que invejava - oh, como as invejava! - de vez em quando tropeçava e voltava a ter dificuldade em levantar-se.

 

O que ninguém - nem sequer os médicos - sabia, era que tinha uma amiga secreta que, tinha a certeza, estaria sempre ali quando precisasse: uma porta escondida que podia abrir, atravessar e ir-se embora quando a dor fosse tão insuportável que não conseguisse mais. Aquela porta, aquela última saída que se materializava sempre que sentia estar no fim das suas forças, dava-lhe força para continuar, independentemente do contrassenso. A morte sempre fora a sua melhor amiga, sempre presente. Velava pelos seus dias e pelas suas noites - e o que ela temia as noites, em que a mente se ligava e parecia um cavalo a galope em círculos num picadeiro imaginário, numa velocidade em que se misturavam as frases que ouvira, os sons que escutara, os pensamentos que tivera, e os que surgiam no momento e que eram tantos... adormecia sempre tarde e extenuada. 

 

Os anos passaram, uns atrás do outro, e a vida fê-la esconder a porta atrás de móveis pesados, reposteiros que acabaram por se encher de pó. 

 

E ainda hoje, quando a dor volta e aperta demasiado, ela se lembra que esta existe. Aperta a chave na mão com força... e segue em frente no dia seguinte.

 

Nota: Se está a passar por uma situação particularmente difícil, não hesite em procurar ajuda. Em caso de situação emergente, ou de solidão, ou impulso suicida,  ligue para uma linha de ajuda, e assim que possível entre em contacto com o seu médico de família, que o poderá ajudar e indicará os passos a seguir. 

A depressão não é uma vergonha, a doença mental não pode ser um estigma social.

Acredite: você não está sozinho.

 

No desafio Arte e Inspiração, participam  Ana D.Ana de DeusAna Mestrebii yue, Bruno EverdosaCélia, Charneca Em FlorCristina AveiroImsilvaJoão-Afonso MachadoJosé da XãLuísa De SousaMariaMaria AraújoMiaOlgaPeixe FritoSam ao LuarSetePartidas

 

Para referencia, esta foi a obra que serviu de inspiração ao texto desta semana

 

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El sueño, Frida Khalo

 

Amanhã, aqui, será revelado o quarto que servirá de inspiração ao texto da próxima semana. Passe por aqui para o conhecer e deixar a primeira palavra que lhe vier à cabeça... como de costume.

Até amanhã!

 

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