A odisseia da Mia
Quando voltámos dos quatro dias de férias, a Mia foi à vet.
E perguntam-me: ela é calminha quando a estão a observar? Respondo ela nunca esteve num veterinário (lamento, mas não). Esta pergunta foi feita quando se estavam a preparar para lhe espetar uma seringa na jugular para tirar sangue; penso que nem eu seria calminha... resolvem tirar da perna, enquanto eu a seguro enrolada numa manta sobre a mesa de observação e o Victor lhe acaricia a cabecita e vai falando com ela, já que eu emudeço durante a coisa: fico tensa como uma corda de piano: isto só é porque tem de ser e se tem de ser, tem de ser, mas fico hirta e nem consigo pensar.
O sangue é debitado para a perna muito devagar, e a tortura dura uns dois ou três minutos, perto do final a criança está meio enlouquecida. Quando a largamos sinto-me mal disposta e só penso, querem ver que vou aqui dar uma valente barraca??? Não dei... sentei-me e esperei até me sentir melhor, discretamente. Entretanto a Mia sai do lugar onde se escondeu, salta para a cadeira da doutora e começa a tirar a ligadura; minutos depois está a comer um miminho, e enquanto esperamos os resultados das analises ocupa-me o colo. E ali fica.
Os resultados confirmam a apalpação: estará (aqui nunca há certezas) com uma inflamação nos intestinos. Decide-se começar tratamento com um antibiótico e um anti inflamatório, mais um comprimido para lhe reforçar o estômago. Certo.
Voltamos para casa (depois de quase desfalecer outra vez quando me dizem o total a pagar), e ela sai da transportadora toda pimpona com os seus dois quilos e quatrocentos, mas o stress não demora a refletir-se nas fezes, que voltam à liquidez que já não tinham (cinco vezes!!!) e no vómito: há uma semana que não vomita, e emparelha o número de vezes que o faz, com o que vai à liteira: cinco. Decido começar o tratamento quando ela estiver mais calma, já que assim nem ficaria lá nada dentro. Dou-lhe inicio no dia seguinte.
A primeira toma foi normal, ela refilou, mas fez-se. A segunda, mais difícil: ela cuspiu, eu apanhei e voltei a dar, ela passou-se... mas lá engoliu. A terceira, complicada: ela não engolia de maneira nenhuma, cuspia, eu apanhava... caramba!! Na quarta toma, segundo dia à noite, resolvi misturar na comida: pois, pouco foi ingerido - e até hoje ela não toca naquela variedade de Sheba. Entretanto continuou a vomitar e com diarreia.
Na manhã seguinte, parei com tudo: ela tinha já, visivelmente, perdido peso, e estava hiper stressada com o tratamento. Na semana que se seguiu à ida à vet, perdeu mais de um quilo - e no último fim de semana, voltou a pesar a menos de um quilo. Deixou de comer na última sexta, eu olhava para ela e dizia ao Victor está mesmo a aproximar-se do fim. No sábado acreditámos que não estaria viva no domingo.
Mas no domingo levantou-se e comeu, embora só o molho. Dei-lhe sopa da Gourmet, e ela acabou por comer uma saqueta inteirinha ao longo do dia. Ainda assim, na segunda feira levantei-me a medo, com o Ippo e a Piccolina sobre a minha cama, e a Mia fora de vista... afinal estava no corredor. Já comeu melhor. O cócó, que tinha a consistência da urina, espessou. E ao final do dia voltou a avidez.
Neste momento está a comer bem e com vontade, e as fezes estão a ficar com um aspeto perto do normal. Nunca mais vomitou.
Agora, o que é que eu tinha dito? Que não a levava à vet para não lhe causar ansiedade, lembram-se?
Por a Mia ser absolutamente permeável ao stress, mais que a qualquer outra coisa.
Então porque é que o fiz??? Para me provar que tinha razão?
A culpa é lixada, e se não a tivesse levado, acho que quando chegasse o fim ia achar que devia tê-lo feito. Se ela morresse em sequência da visita à vet, ia sentir-me culpada por tê-lo feito... assim só tive de me sentir culpada por tudo isto e ela me ter dado desprezo durante dias, e rosnado cada vez que lhe fazia festinhas... deixou de ir dormir comigo vai para uma semana... mas apareceu esta noite e (finalmente!!) voltou a ronronar.
E estamos nisto. A Mia está outra vez em reta ascendente. Não volto com ela à vet (que é uma excelente médica, mas eu conheço a minha pequenita, e tenho a certeza que é a melhor coisa para ela). Continuarei atenta a dores, que essa é a única coisa que me fará mexer.
Isto é uma montanha russa desgastante, mas ela lá vai ganhando a corrida. Antes assim!