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Porque Eu Posso 2.0

... e 'mái nada!

Porque Eu Posso 2.0

... e 'mái nada!

14 Abr, 2014

Boom

Drama. Vozes, burburinho, um empurra o outro, o outro empurra o um. Levantam-se os tons, o 'turmoil' é palpável. Insultos. Mal entendidos na perfeição. A tensão que sobe. O respirar que se torna difícil. E o não me tocas, nunca mais me tocas, e o arfar, o ar que não entra, o irrespirável. O corpo a corpo, medir de forças braço a braço, e ela ali sentada, como se não se passasse nada, só o coração quisesse sair pelos ouvidos, e as mãos, ah se às mãos fosse permitida vida própria, os livros que não nas prateleiras, as loiças que não nos armários, os cacos, muitos cacos, menos cacos que aqueles em que está. Faz orelhas moucas ao que dizem mas as palavras teimam em furar a barreira e a entrar nos ouvidos e a ressoar no cérebro.

E o controlo. 

E o autocontrolo, que já bastavam dois vértices do triangulo em centrifugação acelerada.

Levantou-se devagar e dirigiu-se ao quarto de onde tirou um casaco. Vestiu-o o saiu, não sem ouvir protestos.

Desceu, entrou no carro. Ficou ali, com a chave na mão, sem saber.

Sem saber.

Só se apercebeu da implosão quando se apercebeu que todo o corpo estava dormente, a emparelhar com a velocidade a que o cérebro (não) 'mexia'. Os braços, as mãos as pernas. O pescoço, e a cabeça que se encostou no volante e pois que não, para fazer cenas destas que não seja ao pé de casa, puxa o cinto, mete a chave na ignição e põe o veículo em movimento.

Rodou. Rodou. Rodou.

Round and round, em círculos pelos locais onde vai sempre,

mais uma volta, mais uma corrida 

Quase sem piscar os olhos. 

Parou num posto de abastecimento para evitar a reserva que se fazia anunciar há uns dias. Seguiu caminho,

mais uma volta mais uma corrida

para acabar estacionada onde é costume, mas onde pode encostar a testa ao volante sem gerar comentários.

O telefone, tinha de ter deixado o maldito do telefone em casa.

Sacudiu-se e deu de novo à chave. 

Mais uma volta.

E regressou, subiu as escadas a arrastar os pés, meteu a chave na fechadura, deu a volta.

Mais uma vez a solidão lhe fazia companhia, aquela solidão em que não se desabafa porque não se tem com quem, o melhor amigo fora DA rede, a irmã em trabalho.

Silencio.

Também não adiantaria uma palavra dita.

Acolheu a dormência da implosão e adiou uma visita às urgências, empurrou com a barriga, os ansiolíticos que acabaram, e agora, que se lixe, a gente aguenta até rebentar.