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Porque Eu Posso 2.0

... e 'mái nada!

Porque Eu Posso 2.0

... e 'mái nada!

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Há sete anos atrás escrevi no Diário de uma dona de casa 2.0 sobre um exercício que a Professora Helena Marujo - que leciona Psicologia Positiva na Universidade de Lisboa - fazia, nomeadamente quando as pessoas não conseguiam (assim sem pensar muito) dizer o que as faz feliz, ou pelo menos, quando foi a última vez que se sentiram felizes.

 

- é incrível a quantidade de pessoas que balbuciam e não sai nada...

porque não sabem a primeira, nem se lembram da segunda...

 

E então o exercício que usava para desbloquear e pôr em perspetiva uma série de ideias que andam a voar dentro das nossas mentes tem tanto de simples como de, à primeira vista, macabro: consiste em fazer hoje, bem e de saúde, o próprio epitáfio. Isso ajuda a que as pessoas se descubram, tentem ver-se pelos olhos dos outros. O exercício tem efeitos positivos - pelo menos na grande maioria das vezes.

 

Hoje lembrei-me vagamente do que escrevi na altura, fui à procura e confirmei: na minha lápide estaria apenas a palavra mãe - porque foi isso que eu escolhi ser: ficar em casa com os miúdos 24/7, e estar 100% disponível (na medida do possível, que existem situações que não controlamos e fazem esse 100% mirrar).

Acrescentava na altura que uma frase mais compostinha seria Uma mãe (quase) perfeita. E afirmava, - acreditando piamente - que os meus filhos tirariam os parêntesis e a palavra dentro deles...

 

GRANDE IDIOTA...

 

Ora se há coisa que a minha descendência direta relegou para último plano foi o que investi de mim no processo maternal. As memórias estão distorcidas recordando apenas o menos bom e o mau, consistindo isso maioritariamente nas fases em que passei por crises depressivas agudas - e em que só não me suicidei porque, apesar de achar naquele momento, que eles ficariam melhor sem mim, não lhes queria impor o selo de serem filhos de uma suicida, da culpa que despertaria neles inevitávelmente (as crianças acham sempre que são culpadas) e de terem que superar o facto. Por isso fui furando os dias, a custo, atravessando-os como um bulldozer. Mas contar-se-hão pelos dedos das mãos os dias em que não saí, de todo, da cama, mesmo nas piores fases.

 

Dei-lhes tudo o que tinha para dar. Não havia mais nada nem mais ninguém. Ao contrário do que prego, e preguei nas formações parentais, coloquei os meus filhos, e nem em primeiro lugar: em único.

Não estive parada... fui fazendo parte das A.P. das escolas por onde iam passando, e co-organizando festas, celebrações... escrevi um livro de pedagogia, trabalho de fim de formação, um bê-a-bá para pais de primeira viagem (até isso é carimbado como arrogância da minha parte, mesmo sendo um trabalho, e apesar das pressões para o fazer não o ter publicado por achar que, apenas por ser mãe, não tinha autoridade para ensinar nada a ninguém... ainda assim)

 

E agora é a verbalização da incapacidade de perdoar o tempo que passei na cama (em agonia depressiva), por ter deixado um vazio no meu lugar, um void, e o fazer sentir sozinho (a presença da irmã não conta (e dessa também tenho queixas e acusações, não pensem que me safo...) 

 

E andei seis anos a saltitar de psicólogo em psiquiatra e em psicólogo... por ele ter uma depressão. Se a tivesse de facto, não compreenderia?

 

Digam-me: como é que se vive com isto? 

 

Porque eu não sei...