Como sucumbir à ansiedade em menos de um fósforo
... mesmo a bater os pés com força para disparar em direção contrária
Já sabíamos que a coisa ia piorar. Já sabíamos que quando o tempo frio chegasse, tal como a chamada época das gripes, a coisa ficaria mais difícil. Calculávamos que depois do Natal, se houvesse um alívio das regras - é a economia, estúpido, como disse diretor de campanha de Bill Clinton nas eleições de 1992 - em janeiro se pagaria o preço.
O que não sabíamos é que seria assim. Que iamos passar do milagre da primeira vaga, ao país com maior número de casos por mil habitantes, do mundo.
É preciso ter sangue de réptil a correr nas veias para não quebrar quando ouvimos os relatos de médicos que admitem que hospitais há onde já se está a escolher quem vive e quem morre - ontem, no Jornal da Noite da Sic Notícias.
Queremos ser otimistas e levar um dia de cada vez. Com calma. No entanto, a nossa mente vai trabalhando em surdina e quando menos esperamos, estamos a destilar ansiedade por todos os poros. Porque a incerteza também "mata". Mata a esperança, sepulta o andrá tutto bene da primeira vaga, apaga os arco íris que nos enfeitaram os vidros. Alimenta a dúvida e o medo.
Não serei a única a, num dia bom, ficar de repente capaz de morder algo ou alguém, aparentemente só porque sim. Não serei só eu a sentir que o ar lhe falta, a ter dificuldade em equacionar o futuro imediato.
Tento manter tudo isto a uma distância que me proteja de ser levada pela histeria de grupo, tratando de fazer a minha parte e não pensar que vai ser até à Primavera: é só mais amanhã. E no dia seguinte, repete. E a maior parte das vezes até consigo ser bem sucedida.
Está a voltar a época de parar de acompanhar os serviços noticiosos, limitando-me a espreitar a net uma vez por dia. A minha saúde mental implora por um pouco de paz.
E é minha obrigação dar-lhe esse repouso. Já que mais não posso fazer...