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Porque Eu Posso 2.0

... e 'mái nada!

Porque Eu Posso 2.0

... e 'mái nada!

#VamosPararEstaCoisa

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Como todos sabemos, esta pandemia tem sido arrasadora em mais vertentes de que a mais óbvia. 

 

E neste aspeto (só) posso falar de mim.

 

Desde o primeiro confinamento que ensombrei. E quando foram levantadas as restrições da primeira vez, fiz a minha vida, ainda que mais limitada, como antes mas - e este mas tem um peso absurdo - o ar estava diferente, o medo era palpável, a máscara ainda se estranhava... honestamente não tenho grande memória desses meses, só um ou dois flashes que não são assim muito positivos. Fui, recordo, duas vezes ao cinema, uma sozinha e outra com o meu marido, e pouco mais.

 

entrei na autoestrada, onde ainda não tinha entrado este ano, e fiz os dez quilómetros a chorar e a dizer palavrões

 

E depois caiu o Carmo e a Trindade, deu-se o segundo confinamento, e fui mirrando por dentro. Sobrevivendo, levando a vida devagar, com muita calma, o marido em casa em teletrabalho, juntos 24/7, dentro e fora de casa. Houve semanas em que nem toquei no Rocinante - e quem me segue há mais tempo sabe o importante que sempre foi, para mim, conduzir. O trio que todos fizemos, casa-supermercado-casa, fez com que ainda hoje quando penso em sair, faça um inventário mental do que me está a fazer falta trazer de um deles...

 

Portanto, foram dois meses ou três que me pareceram um ano ou dois, a viver num triângulo de 3 quilómetros de lado. E quando começou o desconfinamento mantive-me limitada a este espaço - e verdade seja dita, que poderia ser MUITO pior.

 

MAS.

 

E há pouco mais de uma semana entrei no carro e dirigi-me ao lugar onde, antes da pandemia, ia pelo menos uma vez por semana. Entrei na autoestrada, onde ainda não tinha entrado este ano, e fiz os dez quilómetros a chorar e a dizer palavrões. Foi uma viagem catártica - foi como se uma flor murcha tivesse começado a voltar a ganhar vida. Tive a perfeita noção do quão amarfanhada, consumida, limitada, fiquei com todas as restrições vividas, de como ínfima me sentia... tinha-me perdido algures e naquele momento comecei a reencontrar-me. Quando cheguei ao Centro Comercial e estacionei já estava calma, e pude subir ao segundo piso, dirigir-me aos cinemas e comprar o bilhete. E depois, a familiaridade da sala de cinema e do grande ecrã, foram como um xaile quentinho e macio sobre os ombros.

 

A felicidade, a minha, é muito isto. E passa, antes do mais, por poder. Poder sair, poder ir. Poder escolher. E foi isso que nos foi tirado e me ia matando por dentro: a liberdade de escolher o meu caminho. Foram paredes, literais e figuradas, que se abateram sobre nós e nos restringiram os movimentos, como se tivéssemos sido metidos dentro de uma caixa de sapatos. E que me fizeram perder noção de quem era. 

 

Entretanto já voltei ao cinema, já  fui a espaços familiares, e o céu é o limite! Posso até não sair, não ir, não fazer, mas é porque EU decido assim. E isso dá-me uma paz de espírito que nem vos conto...

 

 

** e porque não gostaria de voltar a ser espartilhada, cumpro todos os requisitos definidos pela DGS, máscara SEMPRE  (o meu truque é ter sempre duas comigo, uma cirúrgica e uma FFP2, e ir alternando...), álcool gel, distanciamento social... façamos todos o mesmo,  vamos parar esta coisa!**

 

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