Fartinha de ser mãe!
não, não mudem já de canal! Isto não é bem o que parece...
Há quase 25 anos pari uma mulherzinha, que vive em Londres vai para 6 anos. Seis anos depois (mais mês menos mês) pari um homenzinho que está na última porta à esquerda no fundo do corredor.
E sim, há vezes em que me tenho sentido assoberbada, sufocada, atordoada, com vontade de 'me demitir e procurar outra função', que me dá vontade de fazer as malas e bater em retirada sem telefone nem destino, só para fugir.
E depois há as outras. Os cutchis doces do café na cama, das conversas infindas sobre todos os assuntos e mais alguns até estarmos tão cansados que ou nos falha a voz, ou o raciocínio lógico finca o pé e vai só ali comprar tabaco e não volta durante horas.
Mas, tirando as ansiedades de basta e fujo a que me refiro acima - ou mesmo não as tirando - não é isso que me faz estar farta de ser mãe.
Engane-se quem pensa que somos mães apenas de quem trazemos cá dentro nove meses, ou de quem vamos buscar ao gatil/canil, ou nos interpela na rua e entre um miado e um 'queres-ser-minha-mãe?' nos entra pelo coração dentro e não volta a sair. Não. O problema é o resto do ramalhete...
Para começar, quando damos por nós, casámos com um filho já grande. E já vem meio (ou mais) "feito",
e raramente bem,
e é uma trabalheira desconstruir e construir de novo, ir demolindo pré-conceitos made by mãegalinha e erigir modelos tangíveis, palpáveis e fazíveis
or else...
Claro que este é um work in progress e como um trabalho feito com amor e por amor faz-se e vai-se fazendo
mesmo nas alturas em que apetece esganar o outro e nos sentimos transbordantes de raiva e ódio - uma coisa (o amor) é proporcional à outra (o ódio)
E depois há os outros filhos todos. Aqueles que conhecemos e que precisam-porque-precisam-tanto-ai-tanto dos nossos conselhos, da nossa ajuda
e às tantas das nossas mãos, dos nossos braços, do nosso corpo, da nossa pele...
os que vêm, encostam a cabeça e choram o que lhes vai na alma e nós nem conseguimos de abrir a boca
já que eles não vieram para ouvir, mas para falar
e depois há a família, seja ela de sangue ou afetiva, não interessa nada, mas é o um deles precisar de um tipo da apoio, e a gente vai e dá, e depois outro, de quem acompanhe à consulta A, B, C, e aos exames, e nem chega, porque devíamos ligar, dar mais apoio, fazer mais, ai que estou tão sózinha/o, que precisava que me ligasse, mas ela não liga, e quando ligo nem atende
o que ela aqui gosta de mentiras!!!
É isto tudo e mais - que nem vale a pena aprofundar - que me faz estar farta de ser mãe. Mãe dos ascendentes. Mãe também dos descendentes e das 'crises tardias de eu-é-que-sei', e mais o diabo a quatro.
O que eu queria?
Não, nem era ser filha. Era divorciar-me deste papel ingrato e ser só EU.
E sabem qual é a ironia disto tudo? Quem é assim mãe-de-todos-profissional, quando finalmente arranja tempo para parar e respirar fundo, descobre que... não sabe quem é.
Em meio a ser tanta coisa para tanta gente, ela não teve tempo para se aperceber da sua própria evolução, e um dia passaram anos e não reconhece o reflexo no espelho; o exterior - nem o interior.
Se vos reconheceis na descrição acima, usem a caixa de velocidades, façam uma redução valente, e mudem de direção. Não invertam a mesma, mas sigam por um caminho novo. Abram mão. Deleguem. Invistam em vocês.
Eu estou a conseguir - a custo - colar os pedacinhos de provas que me constroem.
Não incorram no erro de chegar aqui.
Digam NÃO.
PONTO.