Há livros de que tenho medo.
Bom, tendo em conta que andei a ler que nem uma lunática, e agora estou um bocadinho cansada de livros (jamais, mas neste momento necessito de uma pausa) começa a ser altura de falar de cada autor e/ou livro que li.
[Calma, não vou afogar ninguém em 'intelectualóidismos' bacocos. Vou só mesmo deixar minha impressão que se confirmou - ou não - nos autores que já conhecia, e as surpresas que novos autores (para mim) revelaram].
Mas hoje vou desenrolar o titulo do post, que é mesmo verdadeiro. Às vezes tenho, de facto, medo de certos livros.
Quando abro um livro novo - e muito raramente se dá este fenómeno, mas quando acontece é um embate que é obra - e parece que o livro se está a abrir dentro do meu peito, e que depois estende os braços e me puxa para dentro dele. A mais recente vez que tal ocorreu foi com o último livro que li, 'A Mulher má' do Marc Pastor.
Não quero pôr-me para aqui com lirismos, mas um livro bem escrito, daqueles que nos falam à alma, é uma coisa deslumbrante. Tanto que chega a assustar. O que me mete medo será, porventura que, com um começo tão avassalador o livro não cumpra. E acabo por ficar com vontade de me ficar por aqueles primeiros parágrafos e repeti-los, uma e outra vez.
Uma parvoíce, concordo.
Depois a curiosidade ganha, e acabo por me atirar de cabeça. Este de que falo, cumpriu exatamente o que prometia. Muito bem escrito, Sem o efeito 'poético' da introdução a acompanhar toda a narrativa, só precisamente na quantidade certa. Sendo uma história real e francamente aterradora, se pensarmos nela sem 'anestesias', Pastor consegue, não poupando nas características malévolas de Enriqueta Martí, passar um tanto por alto, volta e meia, o horror dos seus atos, por forma a que não percamos a vontade de seguir em frente com a leitura.
Outro caso em que me vejo na mesma posição, é com os livros, todos os que já me passaram pelas mãos, de António Lobo Antunes. A escrita embrulha-me, como se fosse uma capa de veludo, e eu eu fico transida, qual mosca apanhada numa teia de aranha. Regra geral não leio um livro dele de uma assentada... e é por isso que e lambuzo com as crónicas que começam e acabam na mesma cadência qualitativa.
Mas se, com ALA eu sei que é sempre assim, este livro de Marc Pasor apanhou-me com as defesas baixas, e foi uma agradabilíssima surpresa.
Recomenda-se como prenda de Natal para quem gosta que histórias reais (ide ao Google pesquisar o nome da 'senhora' e confirmar a veracidade da existência e atos da criatura), com um toque sangrento e contadas com algum humor, nem sempre negro.
Se o pontuasse, dava-lhe 4 e meia, só porque quero ser somítica e para largar 5 vai ser obra.