Impossível ficar impassível - Tragédia de Pedrógão Grande
O ano passado estava de férias quando deu a tragédia da Madeira. Por não haver rede onde passo férias, era durante os almoços que seguia o noticiário, que repetia à exaustão a tragédia duma ilha que ardia a fogo solto...
De tarde, às vezes o tempo embaciava, acinzentava, sob um calor escaldante. Alguém informava é o fogo que está a X km, e o fumo espalha-se. Ali, Concelho de Mação, não há grandes hipóteses de não estar alerta, mesmo no fundo do inconsciente: até o meu pai já tinha andado a ajudar população e bombeiros, há uma dúzia de anos, quando o fogo atingiu a Vinha Velha e lambeu a casa do avô, comendo uma parte - os estábulos, chiqueiro, capoeira...
Ou seja: sabe-se. Sabe-se do risco, está-se descontraidamente alerta uma semana por ano - rezando a todos os santinhos em surdina. Os que só lá estão uma semana por ano... e os outros? E os que lá vivem as cinquenta e duas?
O que se passou ontem e continua hoje em Pedrógão Grande, é uma tragédia. É o tudo em um, pior impossível. O calor, a ausência de humidade, as trovoadas secas e o vento a dar ares de sua graça a intervalos irregulares.
Ontem vi na TV, e ouvi enormidades de um senhor que devia ter medido as palavras, dado o cargo que ocupa - presidente da Associação Nacional de Bombeiros Voluntários, ou coisa similar - a disparar a eito nem sei bem para quem ou onde... não me perece que esta seja a altura de apontar dedos, sendo que não se sabe a quem nem como... ou sequer se é caso para vir a fazê-lo!
Hoje acordei com os números oficiais a aumentarem até aos 64 mortos e 157 feridos.
Impossível não quebrar, não ficar com um buraco no peito do tamanho do mundo ao acompanhar o que se relata. Impossível conter as lágrimas, não perder as palavras.
Este fim-de-semana fica na História marcado a negro.
E os três dias de luto nacional são tão pouco ou nada para esta calamidade...
(foto Marcos Borga via jornal Expresso)