Magia
Desafio Arte e Inspiração - semana #2
Deitado de costas na relva observo o céu estrelado, quase hipnotizado pela dança que as nuvens interpretam por entre as estrelas mais brilhantes que me lembro de alguma vez ter visto. É uma noite tão mágica que até a lua parece ter luz própria, penso, e vou sentindo os olhos a ficar pesados, ao mesmo tempo a relva se começa a assemelhar ao melhor colchão em que estive deitado.
Completamente relaxado, não chego a adormecer. Pelo contrário, apesar dos olhos fechados, estou atento a cada som, a cada odor, a cada movimento à minha volta. Chego a sentir a luz dos pirilampos, se tal é possível!
Depois um som que nunca tinha escutado faz-me entreabrir os olhos. De inicio não vejo nada de diferente, até que consigo divisar um par de olhos brilhantes, minúsculos, meio escondidos atrás de um arbusto. Ouço a minha voz sussurrar que está tudo bem, que é seguro e pode deixar a proteção onde se esconde. Devagar, tentando entender se pode realmente confiar, acaba por se mostrar. É tão pequenina que, pondo as minhas mãos em concha, cabe confortavelmente ali. Observo-a maravilhado, atentando na perfeição de cada membro, e quase me perco naqueles pequenos olhos da cor do céu num dia de Verão sem nuvens.
De repente ergue-se e rodeia-me em reviravoltas graciosas enquanto ri, cada gargalhada soando como o tilintar de um minúsculo sino feito o cristal mais fino. Encantado, consigo ouvir a sua voz nos meus pensamentos, dizendo-me que sempre que acontecer uma noite como aquela, poderei encontrá-la ali, porque em noites assim a magia solta-se e tudo pode acontecer.
Lembro tudo isto como se fosse ontem, e no entanto já se passaram quase trinta anos. E pela primeira vez desde então, sinto que a noite se repete. Volto a deitar-me no mesmo local, olho aquele céu mágico, mas não consigo evitar sentir-me um pouco pateta, já que até hoje duvido que aquilo que recordo não tenha sido mais que um sonho... no entanto fecho os olhos e vem-me à memória aquela velha crença de que morre uma fada, por cada vez que alguém diz que não acredita nelas. E começo a repetir para os meus botões "eu acredito em fadas, eu acredito em fadas... "
E é então que, muito levemente, escuto um tilintar muito suave, tal qual se um sino feito do cristal mais fino. Sorrio, e sei: acredito.
No desafio Arte e Inspiração, participam Ana de Deus, Ana Mestre, bii yue, Bruno Everdosa, Célia, Charneca Em Flor, Cristina Aveiro, Gorduchita, Imsilva, João-Afonso Machado, José da Xã, Jorge Orvélio, Luísa De Sousa, Maria Araújo, Marquesa, Mia, Olga, Peixe Frito, Sam ao Luar, SetePartidas
Para referencia, esta foi a obra que serviu de inspiração aos textos desta semana
"Stary Night", Vincent Van Gogh