Vocês desculpem lá os desabafos que se seguem, prometo que "já a seguir"* faço um post completamente diferente, interessante, e mais, ÚTIL!, mas agora tenho de despejar os fígados, sob perigo de envenenamento, e morrer amarelinha como uma gema de ovo de galinhas caseiras.
Mas comecemos pelo inicio. MESMO pelo inicio.
Há 24 anos fui mãe pela primeira vez. E cinco anos volvidos, pela segunda. E apaixonada pelos meus rebentos, eis que decido ficar em casa com eles - pelo meio houve uma demissão sem pré-aviso devido ao ultimato ou ficas tu com a avó em casa uns tempos ou ela vai para um lar e que desembocou, ao privar várias 24 horas com uma criança de sete, um menino de dois e uma avó de oitenta e nove, uma bela crise depressiva que me acompanhou na readmissão ao emprego, e me deixou incapaz de desempenhar as tarefas que eram da minha responsabilidade prévia com a maestria a que tinha habituado os empregadores. Acabei por atirar a toalha ao chão e vir enroscar-me no ninho com as crias.
Os tempos foram passando, os rebentos despontando, e **TAU!!**, entra um novo personagem, a depressão da mais velha. Corre, médicos, consultas de urgência, injeções de autoestima nas pausas de almoço da escola. Lá acertámos com o médico - o que não evitou umas corridas Fogueteiro-Setúbal-Fogueteiro em que se o Rocinante tivesse sirene esta faria Ó-DA-GUARDA, Ó-DA-GUARDA.
Mas ela tinha lá dentro a capacidade voar, e eu encorajei o seu abrir de asas: aos 19 anos voou rumo ao desconhecido, e está em Londres vai para cinco anos, momento em que vai pedir a dupla nacionalidade. Diz que se diz que vai casar, mas como não me fala desde janeiro, não sei bem se é verdade ou nem por isso.
Segundo ato.
O mocinho, com a partida da sister, entra, também, em depressão. E passam-se cinco anos em altos e baixos, em que eu e o Rocinante desejámos tantas vezes a referida sirene... muitos rostos, muitos medicamentos, algumas escolas, diretores de turma novos, uns atrás dos outros
1º chumbo por faltas.
Aprovação por atestado, e pelo facto de todos terem noção dos conhecimentos do mesmo.
Mudança de escola.
2º chumbo por faltas.
CPCJ, que só serviu para quem nos assinalou levar nas orelhas.
3º chumbo por faltas e nova mudança de escola e de curso.
4º chumbo por faltas, e desistência, procura de trabalho, que está agora a desempenhar. Para trás ficaram os nomes impronunciáveis de alguns medicamentos, e assentaram arraiais um antidepressivo e um ansiolítico.
Respiro fundo? Acham?
Acorda.
Está mais que na hora, olha que perdes o comboio.
Vais trabalhar hoje? Então levanta-te senão não consegues.
O-L-H-A-A-S-H-O-R-A-S-!-!-! (bisado. Uma e outra vez, muitas vezes a plenos pulmões desde o outro lado da casa)
E hoje, além de todo o atrás
Levanta-te temos dentista às nove e um quarto.
Ó mãe, marca para outro dia. Hoje estou bué casado.
E foi nesta altura, depois de meia hora de ping pong em que cada minuto tinha mesmo sessenta segundos.e em que cada segundo parecia um minuto, que quebrei. Dificuldade em respiração, o coração arritmado a querer sair pelas orelhas, um ansiolítico e respirar fundo, menina.
Tens um autocarro às X que faz ligação ao comboio das Y, e se o perdes estás fodi lixado.
Oh mãe leva-me à estação, vá lá...please... enquanto se vira para o outro lado e continua a dormir.
SMS, mais uma, p'ó desgraçado do marido, que se não desabafo, rebento.
Apanhou o comboio a seguir do que devia ter apanhado - em assapanso a viagem toda, mas conseguimos chegar três minuto antes.
Desculpa lá isto tudo.
Ok, até logo.
E, agora sim, permitam-me:
Foda-se.
(e para todos os VÓS que estais desse lado a ruminar 'ai se fosse eu/comigo', e a aventar castigos, punições, a passar atestados de incompetência e quejandas, B'ADAMERDA, SIM? Que nunca vos calhe nenhuma destas situações, é o que desejo, porque só - e SÓ QUANDO PASSAMOS POR ELAS é que vemos quais as possibilidades de reação, e digo-vos já, são quase nulas. Porque o que não ajuda, definitivamente, destrói)
* as aspas concedem ao termo 'já a seguir' um prazo folgado quanto à sua concretização.