Ou nem por isso
- a sobreviver à depressão, inspira - expira, inspira - expira...
Esta imagem: é quase assim que me sinto; dava-lhe mais um bafo de ar, colocava o balão dentro de um armário et voilà, perfeito.
Os meus dias são cópias exatas uns dos outros. Levanto-me. Vou à casa de banho, dou de comer aos gatos, espremo o meu meio limão, junto 2dl de água e vou para a sala. Tomo o medicamento da tiroide, ligo a tv e vejo os programas que gravei na véspera.
Uma hora depois, mais coisa menos coisa, faço o meu pequeno almoço, que é tomado praticamente à hora que vocês quase todos estarão a almoçar: iogurte com uma colher de sobremesa de chia e outra de sementes de cânhamo, e uma mão cheia de mirtilos. Tomo o anti depressivo, um comprimido de prevenção para a coluna, e um para a má circulação.
Mais ou menos por esta altura, abro o Spotify, emparelho com o hi-fi e escolho uma lista para ouvir - é sempre uma de três feitas por mim, mas hoje decidi mudar um nadinha, e escuto apenas Barry Manilow.
E este é o momento em que puxo do tablet e que pinto dois ou três desenhos. Quando me levanto, vou à cozinha, limpo a liteira, trago uma peça de fruta e um shot de gengibre - uma novidade do @Lidl que é assim a melhor coisa do mundo e arredores para quem como eu gosta de gengibre. Para quem não é tão fã, é um anti inflamatório natural, aumenta as defesas do organismo e ajuda a curar crises de sinusite e constipações (ninguém me pagou para dizer isto mas quando vejo resultados, partilho).
Continuo a pintar, ou ligo a tv para ver mais um programa de encher chouriços. Oscilo entre a Sic Notícias, a Sic Mulher (programas de renovação, Masterchef) o FineLiving e o Odisseias. Entretanto, o marido chega: finalmente posso ter uma conversa! Geralmente quando ele me liga, à hora de almoço, apanha-me rouca por ainda não ter dito mais que duas ou três palavras aos gatos...
Fazemos lanche - geralmente ele faz o lanche, a mais das vezes duas tigelas de papas de aveia enquanto conversamos. Eu junto canela e mirtilos à minha. Depois voltamos para a sala e vemos o Masterchef. Mais tarde fazemos uma refeição leve e vemos um filme ou um ou dois episódios de uma serie na Netflix, e vamos deitar. Tomo os meus quatro comprimidos da noite - para a coluna, antidepressivo, para a ansiedade e para dormir, e agarro num livro. Uma ou duas horas a ler, e apago a luz.
E repete.
De modos que estou nisto desde o inicio do ano - depois veio o tele trabalho - foram dias felizes e não foi só por não estar sozinha - depois o desconfinamento (fui uma vez ao cinema com o marido!!) as férias em que só saímos de casa para ir ao supermercado ou tomar um café na esplanada - e prontx estou assim, balão deflated dentro do armário, mas não é desconfortável. É seguro e sem surpresas. É aconchegante, estar aqui ajuda a manter-me à tona sem grandes dramas. Certo que não estarei, digamos, a VIVER com maiúsculas, mas isto não há-de ser sempre assim.
- um dia a coisa muda.