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Porque Eu Posso 2.0

... e 'mái nada!

Porque Eu Posso 2.0

... e 'mái nada!

Há coisas que em 2018 me custam a passar na goela. Coisas que não entendo, de todo.

 

Sou sincera - nestas coisas não gosto de omitir detalhes que acho importantes: há um número crescente de influencers que estão acima, muito acima do peso (falo de obesidade tipo 2 e up), e que tem contas de Instagram a transbordar massa adiposa, recheadas de fotos acompanhadas com textos de louvor à mesma. Ainda este fim de semana vi uma foto numa destas contas, de uma instagramer com um fato de banho vermelho que me deixou um bocadinho embaraçada, começando pelo ângulo da foto...

- que sim, que cada um deve ter orgulho no corpo que tem, sentir-se bem na sua pele; que sim, quando a balança está desequilibrada para um dos lados, há que a desequilibrar para o outro antes de ser possível o equilíbrio... mas este tipo de exemplos, em termos de saúde per si, são tão perigosos como a anorexia. Parece que ficámos todos com medo dos meio termos...

 

Posto isto, que é o exemplo do que considero exagero, vamos à meia final de ontem do Eurofestival, à Netta, de Israel, e ao que se diz hoje dela nas redes sociais e não só (não vasculhei muito, só li o que me veio parar às mãos - e foi mais que suficiente)

 

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(via) 

 

A rapariga é uma artista - e excelente, por sinal. Porquê dissecar a sua imagem, enxovalhar, humilhar, diminuir a mesma? Porque é gordinha deveria enfiar-se numa gaveta, longe dos olhares e escrutínios públicos? Li confusões entre bota e perdigota, a musica é boa mas... mas o quê??? 

 

Certo, o Eurofestival é um concurso centrado numa enorme exposição de imagem... mas não é um concurso de misses. Por acaso o talento até pode ter lugar (como nós sabemos), e não são os números da balança que dão ou tiram o que quer que seja à prestação de Israel.

 

A canção é tida como a canção #metoo deste festival. Faz uma vaia a todos os que gostam de brincar com a outra como se esta fosse um boneco que não pudesse ter voz, ou esta não devesse ser ouvida. Chama-lhes fracos (chicken) por preferirem mulheres-boneca fracas ao invés de se aventurarem com mulheres fortes que sabem o que querem. É uma canção que apela à capacidade da mulher dizer não, e este não ser ouvido.

 

Se isso é razão para que a canção ganhe o festival? Não sei. Eu gosto mesmo muito da canção, acho que o trabalho que Netta faz é notável, a música é dançável, tem tudo para ser um sucesso com maiúscula. 

 

E é nesses parâmetros que quem tem falado sobre a prestação Israelita se devia debruçar, não sobre o peso/imagem da cantautora. Porque isso é secundário.

 

E ao contrário do exemplo que dei quando abri o texto, ela não se está a expôr semi-nua em troca de cliques, fazendo a apologia da gordura enquanto beleza. Ela está a mostrar o seu trabalho, que tem conseguido com muita perseverança e empenho. E isso, para mim faz toda a diferença. 

 

Está na altura de começarmos a ser menos cabras uma para as outras - o que li está no rácio 1/10, sendo 9 mulheres para cada homem que comenta - e começarmos a tentar olhar por cima da vedação. Ou, se preferirem, escutar por cima da vedação.

 

Fala-se de que os homens têm de mudar? Meus amores, enquanto nós não mudarmos, por muito que os homens mudem, não saímos do lugar...

 

2 comentários

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    Fátima Bento 09.05.2018

    Pois eu sou mesmo muito céptica em relação ao um possível sucesso... mesmo muito...
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