O gatinho: a aventura começa...
Ontem ao meio da tarde o pulguinha entrou na minha casa (reparem que está em minúscula, não é o nome, é um apelido...); vinha assustado, e ficou uma hora ou um pouco mais ao colo, a criar laços. Saí, regressei, e voltei a colocá-lo ao colo. Comeu bem - meia lata de Gourmet para crias! - e quando chegou a hora de dormir, foi para a cama connosco.
Parêntesis: se eu comecei por estar apreensiva com a reação das minhas duas ao pequenote, nesta altura estava mesmo muito assustada com a forma como a Mia se sentiria por ver a cama - que é o território dela - invadido pelo gatinho.
Acabei por colocá-lo entre mim e o Victor, e a Mia ocupou o lugar do costume, do lado exterior do espaço onde durmo. Nesta altura surgiu-me o pavor de o Victor se virar e esmagar o piolho... consegui pensar em pô-lo sobre a almofada que uso debaixo das pernas quando leio, onde primeiro coloquei a minha camisa de noite (por ter o meu cheiro). Assim mesmo que a minha ametade se virasse, não havia risco.
(atrás dele, as costas do Victor)
Virei-me para a Mia, fiz festinhas, foi-se embora. Voltei-me outra vez para a almofada e fui dormindo aos bochechos: ou era o pequenino que levantava a cabeça e começava a procurar-me (durante uns minutos dormiu sobre a minha bochecha), ou que caía da almofada para se encostar a mim... eu adormecia, e quando voltava a acordar, a Mia estava nas minhas costas... retorcia-me para lhe fazer festinhas sem me virar - senão ela ia-se embora, e eu não queria que se sentisse posta de lado...
Ou seja, noves fora nada, às 6:00h, quando o Victor acordou, eu não tinha dormido quase nada e tinha a cabeça a querer sair disparada do meu pescoço. O pequeno, nesta altura ligou o volume no máximo e eu atrás dele... até gatinhei para a marquise, para não o assustar com o barulho de levantar o estore. E ele ia para a cozinha, e miava para a parede, por baixo da janela, e procurava uma saída (a família estava do outro lado, e ele sentia-o). Segurei a situação durante quase uma hora e cedi; puxei a casota, pu-lo dentro e desci-o (e mais um pedacinho do meu coração): os irmãos apareceram a correr, e mais os outros todos, mãe inclusive. Dei um pequeno almoço antecipado à malta toda e depois de comerem, a mãe começou a lambê-lo. Voltei para dentro triste, mas disposta a aceitar que as coisas quando não têm remédio, remediadas estão.
Fui ao quarto do Tomás que chorava pelo gatinho (estava mesmo desesperado...) e depois fui-me deitar, a ver se conseguia, finalmente, dormir. Adormeci e duas horas depois acordei com um grito do gatinho vindo da rua (eu encaixo tão bem o papel de mãe, rásmapartam). Levantei-me o mais rápido que pude e fui à janela: o pequenino estava ao colo da minha vizinha do rés do chão ao lado: tinha saído do quintal da esquerda, e ido para o da direita (será que andava à minha procura??) e fora surpreendido pelo bom do cão Sam que não lhe fez mal mas não achou muita piada... e pronto: desci as escadas e trouxe-o outra vez para cima - e finalmente está a dormir há meia hora. Não vê um boi, mas alguém o segura?
Já lhe chamei Michel (mas o nome não é definitivo), por causa da frase "Michel, tu vas tomber, Michel! que eu o Victor usamos em tom de brincadeira por tudo e por nada, e que me fartei de repetir, porque o rapaz coloca-se em cada situação que só não se esbardalha porque eu ando atrás a amparar a coisa - e mia que nem um doido!
Mas é um docinho
Acordei o Tomás - que com isto tudo não dormiu quase nada - para ir trabalhar e ele ficou feliz, feliz!
E desta vez não o vou pôr lá fora nem que a vaca tussa. Quer miar? Pois que mie.
A sobrevivência dele depende de ficar connosco. Cego dos dois olhinhos, não terá hipotese...