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Porque Eu Posso 2.0

... e 'mái nada!

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09 Out, 2017

O último tabu

Poucas mulheres admitem mas há aquelas que se arrependem de ter sido mães. Ou por pressão da sociedade, ou porque receiam sentir-se incompletas mais tarde, ou...ou...

 

Assim como já não são poucas são as que decidem NÃO ter filhos. E essas são olhadas de lado porque "qual é a mulher que não quer ter filhos?" ou "há lá coisa mais mágica de que sentir um bebé a desenvolver-se dentro, dar-lhe vida?" e outras frases que já toda a gente ouviu.

 

Pois que entre o primeiro e o segundo pressuposto existe acima de tudo honestidade e auto conhecimento. E confiança nas próprias decisões. Há de facto mulheres que se arrependem de ter tido filhos: saiu há pouco tempo o livro Mães Arrependidas, onde Orna Donath, socióloga israelita, entrevistou 23 mulheres que assumem arrepender-se de ser mães (com idades entre os 25 e os 65 anos). Este trabalho incide principalmente sobre o peso da sociedade e o arrependimento tout court. Ou seja, acaba por ser a fusão das duas ideias atrás apresentadas: as primeiras que gostariam de ser as segundas, e se arrependem por, por diversas razões, não terem conseguido ser capazes de ter assumido o NÃO, porque ser mãe não era o que queriam.

 

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Há outro caso, mais comum e que igualmente escondemos nas costuras da roupa interior: aquele sentimento de porque é que eu tive filhos / a vida seria tão mais fácil sem filhos / se eu voltasse atrás não tinha filhos, que todas as mulheres de vez em quando pensam, dizem para os seus botões ou em voz alta. E essas não estão arrependidas de terem sido mães, e se voltassem atrás não mudavam nada!

Mas o stress que grassa na sociedade atual, o comportamento tirânico dos filhos - sim, deixemo-nos de eufemismos, as crianças de hoje são pequenos tiranos desde a mais tenra idade! - apontado ao nosso lado mais sentimentalóide entretanto esmagado por arremessos verbais, que repetimos a nós próprias serem próprios da idade/fase/personalidade do infante, levam-nos àquela beirinha da falésia em que queremos, por segundos, deitar fora o bebé coma agua do banho - a bem dizer, nem nos importamos de ficar com a agua.

 

E isso é mais que normal: é até saudável, se conseguirmos entender que é um libertar de vapor, o "sangrar" a máquina da roupa quando lhe abrimos o filtro, o dar um grito a plenos pulmões para encher depois o peito de ar e retomar o caminho que traçámos antes, e que se encheu de curvas e contra curvas que não conseguiríamos adivinhar. E sem as quais a vida seria, numa palavra, chata.

 

Ok, existem casos e casos (e sei do que falo), mas regra geral, seguimos o nosso percurso sabendo que gostamos tanto deles e que a nossa  vida não seria a mesma se eles não fizessem parte dela, não existissem.

 

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Vem esta reflexão a propósito da pergunta da Angela:

 

se, olhando para trás, teria deixado de trabalhar para estar com os filhos a tempo inteiro... 

 

A resposta não é tão simples quanto parece, porque entram mais duas premissas nessa decisão. Quando a Inez tinha 7 e o Tomás 2 anos, eu voltei a trabalhar, e fi-lo durante um ano, mas com uma interrupção: foi-me comunicado que ou receberia a minha avó (que foi no fundo a minha verdadeira mãe, e tinha na altura 90 anos) em casa, ou esta iria para um lar. Estando a segunda hipótese fora de questão, recebi-a, e a estrutura criada para tal não funcionou, pelo que tive de me demitir para ficar em casa: eu, uma criança de 2, outra de 7 e uma de 90, tendo eu uma personalidade depressiva. Escusado será dizer que quando a avó voltou para casa da filha, eu estava mais que de rastos. Voltei para a mesma empresa, mas estava demasiado fragilizada, e não fui capaz de aguentar mais de 3 meses. Acabei em casa com uma crise depressiva brutal, e nunca mais voltei a trabalhar.

Por isso, no fundo, quando deixei de trabalhar foi por força das circunstâncias, e depois, como andava sempre a ser chamada para apagar fogos, decidi parar de dar murros em ponta de faca, e assumi-me como mãe a tempo inteiro, daquelas que se envolvem em Associações de pais, escolas de pais - perdão, coaching parental, etc.

 

Por isso, Ângela,

a resposta é sim, deixava de trabalhar para ser mãe a tempo inteiro.

 

Voltando ao inicio do texto, a minha admiração e aplauso para as mulheres que decidem não ter filhos, tomando essa decisão de pés bem assentes no chão. Acho importante que cada um faça o que o/a deixa mais feliz. 

 

Não seria nunca a minha escolha, sempre quis ser mãe, mas chapeau para quem assume com bravata aquilo que quer.

 

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