Valhamosantinho...
Todos temos daqueles problemas, maiores ou menores, que se abatem sobre nós qual trovoada e nos tornam os pensamentos barulhentos. E no meio do ruído, acabamos por não conseguir ouvir a resposta às dúvidas mais básicas... esquece-mo-nos até de sentir fome, ou sede (a segunda é a mais comum)... e outras pequenas coisas do mais habitual e costumeiro...
Habitualmente levo o Rocinante ao posto de abastecimento, no máximo, a cada duas semanas, e dou-lhe de comer. Isto perfaz o bonito total de 24 vezes por ano (garanto que é mais), e ontem, dei por mim a olhar para as mangueiras completamente em branco, sem saber com qual das gasolinas devia encher o depósito.
Felizmente não estava ninguém atrás de mim, pelo que sem sobressaltos pude ligar ao Victor a perguntar
'olha é 98 ou 95?'
que quanto mais me concentrava em encontrar a resposta sozinha mais esbatidos iam ficando os contornos e a mancha branca se ampliava. O homem esteve a rir durante um punhado de minutos, durante a chamada e depois de desligar...pudera.
A gente leva o barco a bom porto, ou pelo menos conseguimos mantê-lo à tona de água no rumo possível, independentemente da bravura das aguas e da gravidade da tempestade, mas perdemos a capacidade de reconhecer pequenos indicadores e vamos andando em piloto automático. E, às vezes, como que acordamos de um sonho atribulado, olhamos em volta e não reconhecemos onde estamos.
É estranho? Sem dúvida. Mas mais complicado se torna se começamos a entrar em parafuso e assumimos que estamos com algum problema grave de memória, o que não é o caso.
Quando a cabeça está demasiado cheia, elimina tudo o que pode e utiliza o espaço daí resultante para lidar com os tsunamis que nos pontuam os dias e noites.
Assim de simples.
E de desesperadamente irritante...