Viagem
Sabem todos - sim acredito que TODOS os que aqui vêm com alguma regularidade - que faço psicoterapia, mais propriamente psicoterapia analítica, há três anos. Não saberão, penso, que vou para o terceiro mês de duas sessões semanais, a despeito de uma, como até aí.
Primeira reação de quem sabe: mas estás pior?
Não.
Aumentar o número de sessões não quer dizer que a pessoa "esteja pior" (obrigatoriamente, pelo menos). No meu caso, foi aproveitar uma brecha em que as coisas estavam a encaixar nos espaços certos a uma velocidade de meter respeito, e aproveitar o embalo. E tem sido fantástico.
Não entrando em pormenores, a minha vida foi, desde tenra idade complicada (um eufemismo mesmo eufemístico). Fazer esta jornada na companhia do meu querido amigo, sem julgamentos, e com aceitação incondicional, fez-me desabrochar, descobrir o meu âmago, e decidir o que quero e não quero na minha vida; o que cabe no que quero fazer dela e o que não cabe. E quem.
E aceitar. Aceitar, para poder alterar alguma coisa se assim o decidir. É assim um bocadinho como alguém que se está a afogar: esbracejando aflitivamente, perde o controlo de tudo o que eventualmente o poderia ajudar a sobreviver... se conseguir parar de lutar contra os elementos, se se deixar até afundar um pouco, ir com a corrente sem lutar, pode, no momento certo, bater com os pés e coordenar os movimentos por forma a manter-se à tona até vir ajuda, ou mesmo arriscar umas braçadas. Só depois de aceitarmos as coisas como elas são, mesmo, podemos trabalhar para as mudar. Se (ainda) o quisermos fazer.
E aprender algo tão lógico e óbvio é tão difícil!
(Re)Construir a Rosa Fátima tem sido um trabalho que começou no limpar os alicerces, e erigir tudo, pedra a pedra - pedras dos meus destroços em redor. E às vezes olho para a pessoa que sou hoje e tenho um orgulho enorme no resultado do trabalho que temos feito. Nunca pensei que pudessesse um dia vir a sentir-me tão completa como estou agora.
E ainda tenho um muito razoável caminho a percorrer. E vale cada passo...